O samba carioca que agoniza, mas não morre – conforme a letra do compositor e sambista Nelson Sargento – agora é Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão foi tomada nesta terça-feira (09/10) pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Os integrantes do Conselho Consultivo do Iphan aprovaram por unanimidade a elevação do samba carioca a patrimônio nacional. A medida beneficiou as três matrizes do gênero musical: samba de terreiro, partido-alto e samba-enredo.
O objetivo é preservar as raízes da música, articulando ações com comunidades de sambistas, escolas de samba, principalmente a velha-guarda, e músicos contemporâneos. Dessa forma, segundo o Iphan, será mais fácil levantar verbas para desenvolver pesquisas históricas e produzir biografias dos sambistas.
Para o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, a medida abre caminhos para uma política pública efetiva em cima de pontos de fragilidade no samba. “Cria uma política de salvaguardas, criando uma documentação sobre a tradição oral. E isso é possível por meio de projetos”, explicou.
O pedido partiu do Centro Cultural Cartola, que realizou uma extensa pesquisa sobre o ritmo. Neta do sambista Cartola, a vice-presidente da entidade, Nilcemar Nogueira, afirma que a promoção a Patrimônio Cultural é importante para o brasileiro conhecer melhor a própria identidade. “É importante resgatar conhecimentos que estavam inseridos na música e que estão esquecidos, como o uso de instrumentos tradicionais, como a cuíca e o próprio pandeiro”, destacou.
A solenidade foi acompanhada por diversos artistas, como o sambista Monarco. Ele elogiou a medida: “É pena que o Cartola, o Paulo da Portela, o Carlos Cachaça [sambistas já falecidos] não estejam aqui para participar deste dia. É um grande momento histórico e o sambista está feliz em ver o samba chega no lugar que ele merece”, disse.
Monarco lembrou o tempo em que os músicos eram perseguidos. “O Cartola teve a roupa rasgada em plena Praça Onze e o Paulo [da Portela] foi reprimido porque tava cantando samba. Tudo isso o samba passou”, declarou. Outro que recordou o tempo em que era difícil cantar samba foi Nelson Sargento: “Nós nunca nos entregamos, sempre lutamos. E finalmente o samba agora é um cidadão brasileiro, com todas as letras”.
Com a decisão do Iphan, as matrizes do samba do Rio de Janeiro foram registradas oficialmente no Livro de Registro das Formas de Expressão. O ritmo agora figura ao lado de 11 bens culturais como Patrimônio Cultural do Brasil: Arte Kusiwa dos Índios Wajãpi, do Amapá; Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, em Vitória (ES); Samba de Roda no Recôncavo Baiano; Círio de Nazaré, no Pará; Ofício das Baianas de Acarajé; Modo de Fazer Viola-de-Cocho; Jongo do Sudeste; Cachoeira de Iauaretê, do Amazonas; Feira de Caruaru (PE), Frevo de Pernambuco e Tambor de Crioula, do Maranhão.
(Por Vladimir Platonow, Agência Brasil, 09/10/1007)