Porto Alegre (RS) - Passado um ano da mortandade de peixes no Rio dos Sinos, ambientalistas avaliam que pouco foi feito para evitar que uma nova tragédia ambiental ocorra na região. No dia 7 de Outubro de 2006, um barco de passeio do Instituto Martin Pescador avistou o que seria o início do maior crime ambiental ocorrido no Vale dos Sinos nas últimas décadas. Em uma semana de mutirão da Fepam, da Patrulha Ambiental da Brigada Militar e da Defesa Civil, foram retirados cerca de 102 toneladas de peixes mortos, entre eles jundiás, dourados e grumatãs.
O ambientalista Rafael Altenhofen, coordenador da União Protetora do Ambiente Natural (UPAN), avalia que a situação do Rio dos Sinos atualmente é tão ruim quanto estava no ano passado, quando ocorreu a mortandade. A diferença é que neste ano ocorreram muitas chuvas, aumentando o nível do manancial e contribuindo para a depuração das substâncias químicas e dos dejetos jogados pelos esgotos domésticos. De ação concreta dos governos estadual e municipais, diz Rafael, aconteceu pouca coisa.
"A situação do rio, tirando o excedente das chuvas, está pior do que no ano passado. Uma vez que ocorra a mesma situação hídrica que aconteceu no ano passado, fatalmente, ocorrerá sim uma nova mortandade. Até hoje, as próprias empresas que foram autuadas pouco ficou comprovado. Naquela época, tínhamos peixes mortos descendo de Novo Hamburgo, local que impossivelmente seria atingido por aquelas emissões de químicos que diz-se que se ocasionaram as mortes dos peixes dos rios", afirma.
Na época, a Fepam multou seis empresas que jogaram no rio uma maior quantidade de efluentes químicos do que a licença ambiental permitia. Já os municípios formaram o consórcio intermunicipal de saneamento para se ajudarem mutuamente na implementação dos tratamentos de dejetos, que estão entre os principais poluidores dos rios, juntamente com os químicos.
Rafael considera a medida positiva, mas ainda tímida. A maioria dos municípios nunca se preocupou com a poluição dos esgotos. Um exemplo, aponta o ambientalista, é São Leopoldo, que hoje trata somente 20% do seu esgoto, sendo que na década de 40, chegava a cuidar de 80%. A carga orgânica hoje corresponde a 85% dos resíduos que são jogados no rio.
“Não é uma falta de conhecimento técnico, não é falta de recursos, na maioria das vezes, é sim uma questão de falta de priorização. Talvez agora que, em função da mortandade, as prefeituras dêem a devida atenção que deveria ter sido dada quase há um século atrás”, diz.
Outro grave problema do Vale dos Sinos, diz Rafael, é o aterro de banhados na região. As áreas úmidas são responsáveis pela vazão de água ao rio. No entanto, grandes empreendimentos imobiliários têm reduzido a área de banhado, inclusive com o aval das prefeituras. O ambientalista também aponta a necessidade de recuperar as matas ciliares.
(Por Raquel Casiraghi,
Agencia Chasque, 08/10/2007)