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impactos de hidrelétricas patagônia
2007-10-09
Salvar a Patagônia é salvar o Chile, esta é a convicção expressa pela coalizão de organizações contrárias à construção de cinco centrais hidrelétricas na austral região de Ayusén. Um livro com imagens, informações e reflexões é a base da atual ofensiva dos ativistas. Por trás da campanha “Patagônia chilena sem represas!” está o Conselho de Defesa da Patagônia Chilena, integrado por 35 organizações locais e internacionais de diversos tipos. Entre as instituições não-governamentais que o compõem figuram as chilenas Ecossistemas, Promotoria do Meio Ambiente, Programa Chile sustentável, Fundação Terram e Instituto de Ecologia Política.

Também há entidades civis com Agrupação de Defensores do Espírito da Patagônia, empresariais como a Câmara de Turismo Rio Tranqüilo, e religiosas como o bispado da Igreja Católica de Aysén, região que fica mais de dois mil quilômetros ao sul de Santiago. A elas se somam as internacionais Free Flowings Rivers, Greenpeace, International Rivers Network e Natural Resources Defense Council. A campanha, além disso, conta com a participação de profissionais, intelectuais, empresários e artistas, com Beto Cuevas, ex-vocalista da dissolvida banda chilena La Ley.

O Conselho acaba de lançar um livro de formato grande contento fotos das belas localidades da Patagônia chilena, fotomontagens e boxes informativos sobre os prejuízos que causariam as cinco represas que a companhia Hidroaysén pretende construir na região a partir de 2009. Também inclui ensaios sobre uma diversidade de tópicos que incluem o econômico, social, energético e cultural. O questionado projeto foi apresentado em meados de 2005 pela Endesa Chile, filial da multinacional espanhola de mesmo nome, mas, devido à sua enorme envergadura, esta se associou em 2006 com a também geradora Colbún, controlada pelo grupo local Matte. Dessa união nasceu a Hidroaysén, da qual a Endesa detém 51% das ações.

As cinco represas que se pretende construir nos caudalosos rios Pascua e Baker gerariam no total 2.750 megawatts de eletricidade. No próximo ano, a empresa deve apresentar o projeto ao sistema de avaliação de impacto ambiental. Para a obra será necessário, em principio, inundar 9.300 hectares de terrenos virgens, embora no dia 9 de agosto a Hidroaysén tenha anunciado que a área a ser represada diminuiu 36,5%, o que tampouco agrada aos ambientalistas. O Conselho somente avaliza pequenas centrais que não afetem irreversivelmente a rica flora e fauna e que não tenham impacto na pecuária e no turismo da região.

Porém, esse órgão não está preocupado apenas com os rios Pascua e Baker, mas também com os Bravo, Chacabuco, Cuervo, Figueroa, Cisnes, Futaleufú, Palena, Puelo e Manso, nos quais se pretenderia construir outras centrais. O material foi publicado pela editora Ocho Libros Editores e editado pelo ecologista, antropologista e acadêmico Juan Pablo Orrego, da Ecossistemas, e pelo engenheiro agrônomo e máster em ecologia Patrício Rodrigo. Depois de fazer uma revisão histórica dos problemas enfrentados no passado na Patagônia e de relatar as atuais ameaças, o documento expõe as esperanças, os sonhos e as propostas existentes sobre alternativas de desenvolvimento na região.

Os ambientalistas se opõem principalmente à instalação do que seria a linha transmissora de eletricidade maior do mundo, que iria desde Aysén até Santiago. Os números sobre essa linha apresentados são alarmantes: 2.200 quilômetros de comprimento; oito regiões e 200 comunidades atravessadas; 12 áreas silvestres protegidas desfiguradas; 15.645 áreas diretamente afetadas e 4,6 milhões de paisagem sob impacto. A campanha também consta da colocação de out doors, anúncios na imprensa e divulgação de um documento sobre os impactos das represas, entre outras ações.

“Neste momento há uma grande movimentação ao longo de todo o Chile de elementos de comunicação, divulgado este conceito de “Patagônia chilena sem represas!. O livro é um complemento, como uma espécie de manual de campanha”, disse à IPS Juan Pablor Orrego, na cerimônia de apresentação do texto. “O processo de elaboração, que foi um esforço totalmente coletivo, foi tão útil quanto o livro, pois permitiu garantira a coalizão que está por trás dele”, acrescentou.

“O que buscamos é abrir a discussão pública sobre temas tão importantes quanto a política energética do país e a conservação do patrimônio natural e cultural de uma área tão maravilhosa como é a Patagônia chilena”, disse à IPS a diretora-executiva da não-governamental Fundação Terram, Flavia Liberanoa. “Os projetos da Hidroiaysén são um pesadelo, são exatamente o que não queremos para o Chile. Mas, ao mesmo tempo, são uma enorme oportunidade de lutar pelo que queremos por este país”, disse, por sua vez, a diretora do Programa Chile Sustentável, Sara Larraín, em seu discurso durante a cerimônia. “Aqui está em jogo não apenas o modelo energético do país, mas também o modelo de desenvolvimento. Está em jogo quem toma as decisões políticas sobre o desenvolvimento desta nação”, acrescentou.

“O projeto Hidroaysén nasce como uma resposta de marketing, do marketing de sempre, dos grandes projetos faraônicos, à crise energética. Não nos deixemos levarpela falsa opção” das grandes centrais ou da energia nuclear, em referência o forte lobby realizado nos últimos tempos por parlamentares em torno desta última alternativa, ressaltou Larraín. Este país não tem “motivo para cair na armadilha de ter que optar entre as centrais de Aysén ou as nucleares. Essa he a mesa de negociação que nos pretendem impor os setores que hoje em dia manejam o negócio energético e as prioridades econômicas deste país”, denunciou a ativista.

O Chile compra 72% do petróleo, gás e carvão que consome, e desde 2004 as importações de gás natural argentino foram severamente restringidas. Por isso, o governo pretende diversificar a matriz energética, incorporando com mais força as energias renováveis não-convencionais, ou seja eólica, geotérmica, biomassa, entre outras, e os biocombustíveis, além de fortalecer o programa de eficiência energética. Porém, os ambientalistas acreditam que as medidas tomadas até agora nesta direção são insuficientes e temem que se opte pelo mais rápido e fácil: construir mega-usinas hidrelétricas em toda a zona austral.

Também participou do lançamento do livro Juan López de Uralde, diretor-executivo do capitulo espanhol do Greenpeace, que se encontra em visita ao Chile. “O papel principal que devemos ter na campanha é conscientizar a população espanhola para que a Endesa sinta a pressão nesse país, onde fica sua sede central”, disse à IPS Uralde, que na sexta-feira se reuniria com o ministro de Energia do Chile, Marcelo Tokman.

“Apoio que o Chile tenha uma política energética que não seja para resolver os problemas de curto prazo das empresas privadas, mas que esteja orientada para o interesse estratégico do país, que seja uma política centrada na cidadania, na proteção ambiental, que nos permita segurança e estabilidade energética”, disse à IPS o senador Guido Girardi, do co-governante Partido Pela Democracia (PPD). “Tudo isto não se faz com energia nuclear nem com mega-projetos que não internacionalizam os prejuízos ambientais e são mais baratas apenas porque os custos associados que geram são pagos pelas pessoas e não pelas empresas”, disse o parlamentar, que também esteve na apresentação do livro.

Além disso, o pré-candidato à presidência do Chile pelo co-governante Partido Democrata-Cristão Marcelo Trivelli disse à IPS apoiar a campanha “sobretudo por ouvir os habitantes de Aysén, que por muitos anos fizeram um processo exemplar, democrático, para definir seu desenvolvimento estratégico”. Foram eles que “definiram Aysén como reserva de vida e, portanto construir estas represas é passar por cima da vontade da população”, acrescentou.

(Por Daniela Estrada, IPS, 08/10/2007)


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