As ações de combate ao trabalho escravo em áreas remotas do país serão retomadas nesta semana, após as atividades serem interrompidas devido a críticas feitas por senadores contra uma das operações no Estado do Pará.
Os fiscais do Ministério do Trabalho suspenderam suas atividades no mês passado, depois de senadores terem questionado uma ação que libertou 1.064 pessoas na produtora de etanol Pagrisa, no Pará, Estado com o maior número de trabalhadores escravos do país, segundo o governo.
Dados oficiais indicaram que os trabalhadores eram obrigados a cumprir jornadas abusivas em troca de salários irrisórios, além de receber alimentos podres e água contaminada.
"Os fiscais retomarão seu trabalho nesta semana", afirmou à Reuters um porta-voz do Ministério do Trabalho. "Eles se sentiram inseguros depois das críticas dos senadores que desqualificaram o trabalho deles", acrescentou o porta-voz, referindo-se aos congressistas que se opuseram à operação na Pagrisa.
Os fiscais do ministério descobriram que os trabalhadores eram abrigados em barracas lotadas e transportados em ônibus sem bancos. Apesar das provas referentes às condições degradantes de trabalho, um grupo de senadores liderados pelo senador Flexa Ribeiro (PSDB), do Pará, formou uma comissão para averiguar a fiscalização realizada na fazenda, sugerindo que foi feita sob pressões internacionais e que deixou mais de 1.000 pessoas sem trabalho com carteira assinada.
"Na nossa opinião, essa comissão tinha por objetivo desacreditar o trabalho de fiscalização realizado na Pagrisa", afirmou à Reuters o senador José Nery (PSOL), também do Pará.
Segundo Nery, os senadores que questionaram a operação, responsável por libertar o maior contingente de trabalhadores escravos da história contemporânea do Brasil, tentavam "flexibilizar" as leis que combatem as condições degradantes de trabalho.
Contatada pela Reuters, a assessoria de imprensa de Ribeiro afirmou que o senador não poderia conceder entrevista porque estava viajando.
VÍNCULOS POLÍTICOS Estima-se que haja cerca de 25 mil pessoas submetidas a condições de trabalho escravo no Brasil. Os fiscais deparam-se frequentemente com a resistência dos donos das propriedades, muitos dos quais possuem ligações com autoridades políticas ou judiciais de suas regiões.
Durante seu primeiro mandato, Lula reforçou um plano de combate à escravidão contemporânea e passou a divulgar em sites do governo o nome de empresas acusadas de usar mão-de-obra escrava.
Em 2004, três fiscais foram assassinados em Minas Gerais quando investigavam denúncias. Entre os acusados pelo crime está Antério Mânica, um dos maiores produtores de feijão do país e atual prefeito do município de Unaí, onde ocorreram os homicídios.
(Por Guido Nejamkis,
Reuters, 08/10/2007)