Neste verão foi difícil alugar helicópteros na Groelândia. Na maioria dos países isso não seria um grande problema, mas para os locais da maior ilha do mundo (onde não há rodovias e alguns vilarejos se separam por cerca de 70 quilômetros), a vida pode ficar um pouco complicada.
A escassez tem sido causada pela corrida ao diamante, com sonhadores (na sua maioria norte americanos) acreditando que podem ficar ricos. Ao passo que a cobertura de gelo retrocede, devido ao aumento das temperaturas, rochas cobertas há séculos podem revelar novidades espetaculares. O interesse na tundra da Groelândia (vegetação característica da região) foi despertado pela descoberta de um diamante de 2.4 quilates este ano no oeste da ilha, no lago Garnet .Este foi o maior diamante achado em uma triagem feita na área pela Hudson Resources, de Vancouver.
A crença no potencial de riquezas da Groelândia se deve ao fato de que a geologia da ilha é idêntica a da passagem noroeste do Canadá, que agora não possui mais gelo e abriu o caminho para a mineração no Ártico.
Outras riquezas também estão começando a ser exploradas na Groelândia, como o ouro. As grandes empresas petrolíferas estão negociando licenças para explorar blocos da costa, abrangendo milhares de quilômetros.
A corrida pelos minerais também está incentivando outro debate na Groelândia: se o país deve se tornar independente da Dinamarca. Com 56.000 habitantes espalhados em uma área quase do tamanho da Europa, a ilha depende fortemente de subsídios da Dinamarca.
Aleqa Hammond, ministra de assuntos internacionais da Groelândia, espera que as companhias petrolíferas e mineradoras criem riqueza suficiente para que seu país acabe com a ligação colonial.
Mas alguns argumentam que a independência tem seus perigos. A Groelândia é a massa de terra mais próxima do Pólo Norte e rapidamente assumiu grande importância estratégica, ao passo que seus vizinhos mais poderosos e populosos anseiam por uma parte da suposta riqueza mineral do Ártico. Os Estados Unidos estão fortalecendo a sua base aérea em Thule, no extremo norte da ilha, e os Russos já colocaram bandeiras no assoalho oceânico.
Mas ao invés de depositar suas esperanças na riqueza mineral, a ministra acredita que a melhor chance de independência do seu país está na hidroeletricidade. Os vastos lagos e a cobertura de gelo em derretimento fornecem um imenso potencial para eletricidade, livre de combustíveis fósseis. O governo da Groelândia está negociando com a companhia de alumínio Alcoa a construção do segundo maior “derretedor” do mundo. O contrato ainda não foi assinado, mas a ministra acredita que o projeto irá fornecer 3,5 mil postos de trabalhos.
O governo de Hammond introduziu programas educativos para que os caçadores nativos possam se preparar para a nova vida, e a independência. “O fato é que não podemos continuar como estamos,” disse ela. “Os caçadores esperam um mês a mais para o gelo se formar, e ele derrete um mês antes na primavera. É como um chefe pegando três meses do seu salário sem avisar. Eles não acham comida suficiente para si e para seus cães. Menos de 500 indivíduos de toda a população podem sobreviver atualmente somente da caça.”
(Traduzido por Fernanda Muller,
CarbonoBrasil, Fonte: Guardian Unlimited, 05/10/2007)