A sardinha é um dos poucos peixes que ainda existem na região Foram três meses de longa espera para poder voltar ao mar. Após a liberação da pesca na baía de Todos os Santos, em julho, com o fim do fenômeno da Maré Vermelha, desastre ambiental que atingiu a baía em março passado e culminou na morte de 50 toneladas de peixes, mariscos e crustáceos no litoral do Recôncavo baiano, homens e mulheres que vivem da pesca artesanal em Saubara não conseguem mais tirar da água o sustento da família.
Pescada amarela, robalo, tainha, siri-mole, papa-fumo, lambreta, ostra - itens antes fartos e bastante consumidos na região - desapareceram da baía de Todos os Santos. Nas barracas de praia, embora esteja disponível no cardápio, saborear uma moqueca de siri catado, uma das especialidades da praia de Cabuçu, soa apenas como mais uma história de pescador. “Pode procurar, virou lenda”, comenta Jorge Nascimento, 47 anos, barraqueiro.
As mulheres saem para mariscar e não encontram siri nem papa-fumo. Até o camarão está escasso na região. “Morreu tudo, não tem mais nada”, diz Azenildes dos Santos, 47 anos. As marísqueiras caminham mais de dez quilômetros até a praia de Taperoá, outras atravessam a Barra do Paraguaçu rumo à Salinas das Margaridas, em busca de pesqueiros mais distantes, com esperança de encontrar uma situação melhor, mas a saída é em vão. “O único que ainda encontra é o camarão, mas está muito miudinho. O pistola não tem mais.”
Professora do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UNB), Maria Julia Martins Silva explica que é preciso aguardar até que os peixes voltem a se reproduzir normalmente. “A natureza precisa de um tempo para se recompor. Os peixes e o marisco ainda vão nascer, crescer, ou seja, se desenvolver, para então ficarem no porte ideal de serem pescados pelo homem. A questão é saber se há despejo de esgoto clandestino na região”, alerta.
Dejetos de esgoto servem como nutriente para algas marinhas. No caso da Maré Vermelha, as algas passaram a se reproduzir em velocidade, liberando toxinas que mataram os peixes e mariscos, justamente porque havia nutriente em excesso na água, provavelmente proveniente de esgoto. “As algas se alimentam de nutrientes que vêm de fossa e despejo clandestino”, explica Maria Julia.
O tempo para que ocorra a recomposição da fauna marinha é incerto. “Depende da velocidade da corrente. Em área de manguezal, o processo é mais lento porque os nutrientes ficam retidos”, diz.
(Por Tássia Novaes,
Agência A Tarde, 07/10/2007)