A polícia ambiental resolveu fechar o cerco contra os produtores que teimam em botar fogo no campo para "renovar" as pastagens. Com a temporada das queimadas chegando ao fim, os focos de incêndio se proliferam.
Na Serra Catarinense, o 5º Pelotão da Guarnição Especial de Polícia Militar Ambiental, sediado em Lages, trava uma batalha campal contra os incendiários rurais.
Para esta semana, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) anuncia uma investida inédita: o rastreamento de queimadas através da utilização de satélite.
Desde agosto, o Ibama aplicou R$ 62 mil em multas contra infratores nas cidades de Bom Retiro, Leoberto Leal, Lages e Apiuna. Cinco propriedades foram embargadas na operação. O 5º Batalhão de Polícia Militar Ambiental, em sua vistoria na região, constatou que o fogo consumiu mais de 2 milhões de metros quadrados, o que corresponde a 10% da área de abrangência da unidade. Quinze proprietários de terra foram autuados, com encaminhamento do auto de constatação dos danos ao Ministério Público Estadual.
- Apesar dos esforços para conscientizar os responsáveis pelo efeito danoso das queimadas e das ações de fiscalização, as estatísticas sobre essas ocorrências se mantêm - afirma o tenente-comandante Frederick Rambusch, do 5º Batalhão.
As nuvens de fumaça tóxica que ultrapassam as porteiras das propriedades e chegam até as estradas e cidades, comprovam a grande dimensão do crime eológico.
- Eu toquei fogo em tudo porque é mais prático e rápido, e aproveito para queimar as ervas daninhas que prejudicam o desenvolvimento do pasto - assume um dono de terra da Coxilha Rica que prefere não ser identificado.
Outro, mesmo flagrado pela policia ambiental durante a fiscalização, coloca a culpa em pessoas que não conseguiram emprego e fazem isso para prejudicá-lo.
- Eu jamais faria isso com a minha terra. Sei que é prejudicial e eu não teria uma atitude irresponsável dessas. Eles colocam fogo durante a noite e não tenho como controlar - desconversa.
Não há dados exatos sobre o número de queimadas no Estado. Através do uso de satélite, o Ibama espera obter informações mais detalhadas, para fazer um planejamento operacional eficiente.
- Com isso, teremos um quadro preciso de todos os que cometeram crime ambiental, para que esses produtores sejam autuados - adverte Bruno Barbosa, coordenador da divisão técnica e de fiscalização do Ibama em Santa Catarina.
Especialistas condenam e sugerem alternativasAs queimadas enfrentam também a resistência de especialistas em solo e nutrição animal, além de economistas. Estudos revelam que a queima das pastagens naturais, nas regiões dos campos de altitude brasileiros, deve ser evitada como prática rotineira, pois deteriora as condições do solo, reduz o potencial produtivo e a qualidade da vegetação nativa, além de não ser uma prática sustentável.
- Após décadas de observação numa propriedade situada na região dos Campos de Cima da Serra, acreditamos que não há necessidade de eliminar o pasto seco com fogo - afirma o engenheiro agrônomo Aino Victor Ávila Jacques, professor de agrometeorologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
- O argumento de que a queima renova totalmente a pastagem, possibilitando uma dieta de maior valor nutritivo para os animais, não têm amparo científico. Isso porque, havendo boa oferta de forragem, o animal seleciona a sua dieta, consumindo o que lhe convém - justifica.
Segundo o especialista, as queimadas reduzem a riqueza florística, a produção de forragem verde e de mantilho, e a quantidade volumétrica de água no solo.
- Há maior ciclagem de nutrientes através da forragem e do mantilho das áreas sem queima - explica Jacques.
Os prejuízos econômicos também são ressaltados, com base, principalmente, no abubo orgânico desperdiçado através da ação do fogo.
- No estudo, somente em nitrogênio foram obtidos, em campos não queimados, de 35 a 163 quilos por hectare ao ano, o que é equivalente a cerca de 1,5 a sete sacos de uréia - alerta Jacques.
Nas pastagens secas, segundo o agrônomo, podem ser encontrados fósforo, potássio, cálcio, magnésio e os micronutrientes essenciais às plantas. Uma das alternativas defendidas por ele é o pastejo controlado em certas épocas do ano, com o rodízio dos animais.
Outras opções de baixo custo que, segundo Jacques, estão ao alcance dos produtores, são a roçada dos campos, sobressemeadura (replantio) da pastagem da estação fria e suplementação alimentar para os animais.
(Por Guto Kuerten,
Diário Catarinense, 07/10/2007)