Segundo ministro de Minas e Energia, parte do aumento no combustível será bancada pela Petrobras ou pela BR Distribuidora
Legislação estabelece que todo o óleo diesel vendido no país possua uma adição mínima e obrigatória de 2% de biodiesel a partir de 2008
O ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, disse ontem que dificuldades iniciais do programa nacional de biodiesel podem representar pequeno aumento do preço do diesel no início de 2008 para o consumidor final. Em sua avaliação, não faltará produto.
"No início do Proálcool o álcool também era mais caro que a gasolina. Com o biodiesel, pode ficar um pouco mais caro quando fizer a mistura, mas muito pouca coisa", afirmou.
Segundo o ministro, parte desse aumento será custeada pela BR Distribuidora ou pela Petrobras, que vão pagar o valor maior na aquisição do produto. Por se tratarem de duas empresas públicas, significa dizer que o contribuinte pagará parte da conta indiretamente.
De acordo com o presidente da União Brasileira do Biodiesel, Odacir Klein, o preço do biodiesel hoje chega a ser 30% superior ao do diesel mineral, porque boa parte da produção nacional do biocombustível utiliza soja como matéria-prima. Por ser uma commodity, a soja é cotada internacionalmente e o crescimento da demanda asiática por alimentos aqueceu o seu mercado.
"O produtor de soja vai vender para quem paga melhor. A indústria do biodiesel vai ter que pagar mais, vai ter que pagar o mesmo preço que o comprador chinês", disse.
A perspectiva de aumento foi confirmada pelo gerente-executivo da BR Distribuidora, Alcides Santoro. A alta é explicada pelo custo do biocombustível, que é até 25% maior que o do diesel. Atualmente, 95% da produção da BR já é feita com a mistura de 2%, e o aumento não foi repassado para as bombas. A diferença, segundo Santoro, "é absorvida" pela estatal.
A legislação atual estabelece que todo o óleo diesel comercializado no Brasil possua uma adição mínima e obrigatória de 2% de biodiesel a partir de 1º de janeiro de 2008. Na semana passada, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) determinou a realização de quatro leilões para aquisição de biodiesel relativa a 3% do consumo nacional de diesel.
ProduçãoDe acordo com Hubner, as empresas com capacidade instalada para a produção de biodiesel serão capazes de responder à demanda do B2 a partir de janeiro do ano que vem. Muitas delas já teriam matéria-prima e instalações prontas, aguardando os próximos leilões da ANP.
"Os leilões desse ano eram autorizativos, serviram apenas como teste, para ver como estava a logística, a mistura. Era esperado que tivéssemos problemas com isso. A indústria sofreu alguns atrasos, não estava pronta, mas hoje os problemas foram resolvidos", disse.
A ANP já realizou quatro leilões para a compra de biodiesel, totalizando 840 milhões de litros do produto. De acordo com a assessoria da agência, apenas 261,6 milhões de litros foram entregues até o final de agosto. Segundo o ministro, porém, o volume chegaria próximo aos 400 milhões de litros.
Hubner afirmou que o governo decidiu verificar in loco se as empresas que receberam autorização da ANP para fabricar biodiesel tinham capacidade efetiva de entrega. " Está tudo funcionando adequadamente."
Reportagem publicada ontem pela Folha mostrou a falta de biodiesel necessário para atender a exigência legal de 2% no primeiro ano do programa, 2008. Ausência de matéria-prima, logística insuficiente, alto preço da soja no mercado internacional, entre outros motivos, justificam uma produção interna abaixo do necessário.
Embora o diretor do ministério Ricardo Dornelles tenha confirmado à Folha que o biodiesel contratado pela ANP não será totalmente entregue no prazo, Hubner disse possuir a sinalização do setor produtivo de que haverá combustível suficiente para atender a lei.
(Por Fernando Nakagawa e Iuri Dantas,
Folha de S.Paulo, 08/10/2007)