Em São Paulo, equipe reduzida do Limpurb não consegue evitar sacos abertos deixados para trás e sujeira nas ruas Tudo (ou quase tudo) é grandioso no maior contrato da Prefeitura. São R$ 10 bilhões por 20 anos de serviço, 45 mil quilômetros de ruas atendidas, 402 caminhões, 10,9 milhões de pessoas beneficiadas e aproximadamente 9 mil toneladas diárias de resíduos. O único número tímido é, curiosamente, o da equipe que fiscaliza o enorme sistema de coleta domiciliar. Segundo dados do Departamento de Limpeza Urbana (Limpurb) da Secretaria Municipal de Serviços e Obras, há somente 17 agentes vistores na ativa.
Em 20 carros, essa equipe que roda São Paulo à procura de irregularidade como sacos de lixo deixados para trás, ruas que não foram limpas, lixeiros sem proteção e até eventuais fraudes - há casos de acréscimo de entulho para aumentar o peso da carga uma vez que as empresas ganham por quilo.
Apesar de a situação estar longe do caos, há problemas na prática. Na tradicional Rua Augusta, nos Jardins, zona sul, por exemplo, não é raro encontrar sacos abertos e sujeira espalhada. As lojas, quando fecham, por volta das 18h , colocam seus detritos na calçada. “Até os caminhões aparecerem no começo da madrugada, os catadores já abriram e reviraram tudo. Quando o lixeiro vem, leva o saco arrebentado”, conta Suzana Vieira, de 45 anos, atendente de um bar da região.
A coleta seletiva, feita pelas duas concessionárias contratadas pelo governo - a Ecourbis e a Loga - , também tem problemas. Morador de uma casa em frente à Praça Aritiquibá, na Lapa, zona oeste, Fernando José de Lima, de 42 anos, vê seus sacos de lixo largados o dia todo, descaso que, na época de chuvas, pode ser temerário. Lá, o lixo reciclado costumava ser recolhido na quarta-feira à noite. “Percebi que, de manhã, tudo continuava lá.” Ele ligou para a Loga e foi informado de que o serviço havia passado para as manhãs de quinta. “Segui a orientação, mas quando chego de noite encontro o saco intacto. Não vale a pena separar”, reclama ele, que ligou sem sucesso para reclamar duas vezes .
“Mesmo com controle online e via satélite dos percursos feitos pelos coletores, há necessidade de maior fiscalização”, disse Sabetai Calderone, especialista no assunto e doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). “O serviço até que vai bem. As concessionárias recebem por peso e têm interesse de recolher tudo.” Mas, segundo Calderone, há problemas e deveria haver sempre a fiscalização dos equipamentos usados pelo lixeiro. “A equipe de fiscais é pequena. Um taxista que roda o dia inteiro não vai além dos 300 quilômetros. Pelos meus cálculos, então, o controle é provavelmente de 5% do universo. É uma amostragem duvidosa.
Em nota, a Prefeitura informou que “o número de 17 agentes vistores é adequado.” Segundo a administração, “são vistoriados, no mínimo, 25% dos setores de coleta mensalmente, de forma a totalizar 100% dos setores no quadrimestre”. Ou seja, “em quatro meses, todos os setores de coleta de cada subprefeitura são fiscalizados.”
Já a Ecourbis alegou que “o número de fiscais é suficiente”. Eles dominam a operação com o sistema online de gerenciamento, que controla a pesagem e o número de viagens dos caminhões.” Além disso, segundo a concessionária, “a qualidade da operação deve ser avaliada pelos munícipes”. Diz a Ecourbis: “na última pesquisa feita a pedido das concessionárias, o índice de ótimo e bom foi de 98%”. A Loga não se pronunciou.
(Por Arthur Guimarães,
O Estado de S.Paulo, 08/10/2007)