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selos verdes
2007-10-08
Por força de regra internacional, bancos condicionam crédito à exploração responsável

Florestas devem gerar R$ 7 bi por ano até 2010; carteira de clientes deve ter apenas madeireiros que respeitarem normas

De olho na floresta amazônica, grandes bancos estão colocando em prática um plano para liberar mais recursos a empresas que pretendem explorar a mata de forma responsável.
Uma das exigências é que os candidatos aos créditos tenham o "selo verde" -atestado de que a exploração florestal é feita de forma responsável.
O ABN-Amro fechou uma parceria com o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) para convencer os madeireiros a cumprir as regras.
"Hoje não há dinheiro para quem age sem responsabilidade com o ambiente", afirma Christopher Wells, superintendente de risco socioambiental do ABN-Amro, que cortou 22 madeireiros da carteira de clientes nos últimos cinco anos.
Para melhorar essa atuação, o banco e o Imazon querem ensinar os madeireiros a ganhar dinheiro sem estragar a floresta ou poluir o ambiente.
Quem aceitar o negócio não terá como enganá-los porque suas atividades serão monitoradas via satélite. "Qualquer intervenção na floresta deixa rastros, e iremos investigá-los", diz Paulo Amaral, pesquisador do Imazon responsável pelo projeto com o ABN.
O Basa (Banco da Amazônia), com o JBIC (Japan Bank for International Cooperation), está selecionando 11 projetos que receberão US$ 100 milhões ainda neste ano. A primeira exigência: ter o "selo verde". O holandês Rabobank, especializado em crédito para investimentos no setor agrícola, também faz questão do certificado.
O Itaú está se preparando para entrar com mais força nesse setor. A instituição abriu consulta pública para implementar uma nova política de crédito ambiental. Qualquer projeto destinado à área ambiental -e particularmente os projetos relacionados à exploração florestal- acima de R$ 5 milhões seguirá padrões mais rigorosos.

Sem mercado paralelo
A iniciativa dos bancos acontece no momento em que o governo federal implementa um projeto de expansão do setor madeireiro legal.
Estimativas do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) revelam que 80% da madeira consumida no Brasil é extraída de forma predatória. Esse índice é mais alto no comércio realizado entre as cidades -principalmente nos Estados da região Norte- e baixa para cerca de 60% nas compras realizadas entre governos.
Segundo Antônio Carlos Hummel, diretor de florestas do Ibama, o índice de legalidade só passa dos 90% entre os exportadores, que trazem US$ 3,3 bilhões em divisas por ano ao país. "A maior parte dos importadores só compra de quem tem o selo", afirma Hummel. "Europeus e americanos são mais exigentes nesse quesito."
Acontece que a imagem do selo no país está ameaçada. Há casos de empresas certificadas denunciadas pelo MPF (Ministério Público Federal) e multadas pelo Ibama por infrações ambientais. Mas, na opinião dos especialistas, não é o caso de dispensar o selo. "Ele não é um instrumento perfeito, mas um mecanismo de controle", afirma Marcelo Marchesini, especialista do Greenpeace. "Sem ele, seria pior ainda."
Os bancos concordam, mas continuam cada vez mais atentos ao histórico das empresas antes de abrir o caixa. "Uma multa ambiental não significa, necessariamente, que a empresa agiu de má-fé", explica Wells. "Se fosse assim, teríamos de fechar a carteira para as madeireiras."

Potencial
Para os bancos, a ampliação dos negócios nesse ramo não pode ser um dilema. Embora boa parte deles tenha assinado os Princípios do Equador -um conjunto de políticas do Banco Mundial que proíbe a liberação de recursos a empresas "inimigas do verde"-, essas instituições não querem perder as oportunidades de um mercado que deverá movimentar anualmente cerca de R$ 7 bilhões.
É quanto as florestas estarão gerando até 2010, segundo cálculos de Tasso Azevedo, diretor-executivo do SFB (Serviço Florestal Brasileiro).
Essa cifra leva em conta as atividades relacionadas ao corte e à transformação de madeira em florestas públicas, áreas que o governo está licenciando às empresas interessadas em planejar o corte respeitando o ciclo de crescimento e reprodução das árvores. Essa prática, conhecida como manejo, prevê cortes em intervalos que variam de 20 a 30 anos em florestas nativas da Amazônia. As florestas plantadas estão sob critérios diferentes.
A primeira licitação do gênero foi aberta há 20 dias. Foram 90 mil hectares concedidos na Floresta Nacional do Jamari (RO). Até 2008, outras seis áreas deverão ser licenciadas.
Quem ganhar o direito de exploração não será o proprietário das terras, mas responderá por elas. Também pagará royalties ao governo, que prevê arrecadar R$ 150 milhões por ano em 2010. Os bancos não querem perder essa chance.

(Por Julio Wiziack, Folha de S.Paulo, 07/10/2007)



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