(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2007-10-08
A floresta tropical deu lugar a um cemitério de árvores. Até onde a vista alcança, há troncos arrancados do solo, sem folhas e com galhos quebrados. As copas das árvores - um "telhado" tão denso e exuberante que se podia caminhar sobre ele - não existem mais. Os poucos pontos de verde que sobraram não são maiores do que um maço de brócolis. Este é o legado do furacão Felix para a costa leste da Nicarágua, região habitada pelos índios miskitos. Um cheiro de morte marca a paisagem. Plantações e animais afundaram nos pântanos. Tanta terra foi carregada para os rios que eles mais lembram correntes de lama.

Rio abaixo, a destruição piora. Palafitas esburacadas pendem inclinadas, muitas sem telhado ou paredes. Ao chegar à beira-mar, você percebe que elas foram jogadas ao ar, antes de cair e despedaçar-se. Há um mês, no início de setembro, o mundo assistiu ao furacão uivar em direção à América Central e se preparou para o pior. Era de categoria 5 (a máxima), uma tempestade monstruosa, e um cataclismo parecia inevitável.

Mas o furacão mudou seu curso e não passou por grandes centros. Em vez de cidades e resorts turísticos, atingiu essa floresta remota, lar de algumas poucas comunidades de pescadores e agricultores. Um número relativamente pequeno de mortes foi registrado - pouco mais de cem. A história parecia acabada. A atenção mundial se voltou para outros lugares. Dias atrás, uma visita à região atingida mostrou que, para os índios miskitos, uma das mais empobrecidas e isoladas comunidade das Américas, a história estava apenas começando. Cerca de 160 mil pessoas enfrentam uma crise ecológica e humanitária - e a situação está piorando.

- É bem possível que as conseqüências da passagem do furacão venham a matar mais gente do que a própria tempestade. Acho que em uma ou duas semanas a avalanche de doenças deve começar - afirma Heriberto Cespedes, médico que trabalha em Puerto Cabezas, cidade na região.

De acordo com as agências humanitárias, os habitantes das vilas destruídas enfrentam o risco da fome, da água contaminada e de doenças transmitidas por ratos e mosquitos. Crianças começaram a sucumbir à malária, à dengue e à diarréia. A ameaça a longo prazo é de que a destruição das florestas - 1,5 milhão de hectares, incluindo áreas de proteção ambiental, foram dizimados - contamine a água e arruine por gerações a economia e o meio ambiente da região.

Captura de lagostas teve de ser interrompida
De todos os números deixados pelo furacão Felix - mais de 80% das casas por onde passou destruídas ou danificadas, mais de 15 anos para a recuperação das florestas, um apelo da ONU por US$ 40 milhões para ajuda - , o mais surpreendente foi a velocidade do vento, 257 km/h. Os furacões anteriores causaram mais devastação por causa das chuvas, dos alagamentos e dos deslizamentos de terra, mas, no caso do Felix, foi mesmo a força do vento. Os ventos e ondas vieram tão rápido que em torno de 80 pescadores de lagosta da localidade de Li-Dakura e das vilas ao redor não tiveram tempo de ir para a terra. Pelo menos 30 se afogaram, e alguns corpos foram parar na vizinha Honduras. Os sobreviventes agarraram-se aos destroços por dois dias até serem resgatados.

- Tenho medo de voltar para a água. Mas não há nada mais para nós aqui, só restaram as lagostas - disse Anpinio Adams, 32 anos, olhando em direção ao mar. Na verdade, pelos próximos meses não haverá nem mesmo isso. O mar está tão contaminado que a captura de lagostas foi interrompida. Especialistas alertam que danos maiores podem ocorrer com a contaminação dos lençóis freáticos pela vegetação apodrecida. Edith Morales, uma dos coordenadoras do programa de socorro à região, balança a cabeça ao falar:

- As árvores são sagradas para nós. Agora estão mortas e tornando as coisas piores. Nunca imaginamos isso.

(Zero Hora, 08/10/2007)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -