A Europa estima que os países desenvolvidos deveriam reduzir de 60% as suas emissões de CO2 daqui até 2050. Mas ela não conseguirá alcançar este objetivo sem incentivar maciçamente, e o quanto antes, as tecnologias de captação na fonte e de armazenamento dentro de camadas geológicas deste gás de efeito estufa. Estas foram as conclusões de uma série de reuniões e de conferências internacionais organizadas, de 3 a 5 de outubro, em Paris.
"Nós não poderemos combater o aquecimento climático sem essas tecnologias. Elas representam 35% das armas das quais dispomos para reduzir as nossas emissões, e até mesmo 50% no caso da Europa. Elas poderiam servir de ferramentas nas negociações relativas a um acordo pós-Kyoto", assegura Frédéric Hauge, o presidente da Fundação Bellona. Esta ONG norueguesa não hesitou a negociar diretamente, com base em uma plataforma de reflexão batizada de Zero Emission Plants (Usinas de Emissão Zero, ZEP), com representantes de companhias petroleiras como a Shell, e também com cientistas e industriais, no que ela foi incentivada pela Comissão Européia. Esta última desejava dispor de uma análise pluralista das condições de desenvolvimento dessas soluções técnicas.
De que se trata? De captar o gás carbônico tão logo este é produzido nas instalações industriais e em particular nas centrais elétricas que utilizam combustíveis fósseis, responsáveis por 40% das emissões mundiais. Além disso, trata-se de transportar este CO2 e de injetá-lo no subsolo, dentro de camadas geológicas onde ele deverá permanecer confinado durante centenas de anos.
Enquanto essas tecnologias, derivadas daquelas que são implementadas na indústria petrolífera, já estão disponíveis, elas permanecem muito caras e a sua utilização ainda precisa ser validada em grande escala. Atualmente, o custo da tonelada de CO2 evitada é avaliado em 60 euros (cerca de R$ 155) - sendo que 85% desta quantia envolve técnicas de captação e de compressão, que requerem grandes quantidades de energia. O objetivo é de alcançar um piso de 20 a 30 euros (de cerca de R$ 51,60 a R$ 77,50) por tonelada, um custo que seria compatível com a cotação prevista da tonelada de CO2 no mercado europeu de câmbio de quotas de emissões.
Uma dúzia de protótiposMas, para alcançar esta meta, segundo a ZEP, a Europa deverá investir entre 6 e 10 bilhões de euros (entre cerca de R$ 15,5 bilhões e R$ 25,8 bilhões) para construir uma dúzia de protótipos na escala industrial (unidades com potência de 400 megawatts) daqui até 2015. Esta será a única maneira de ter a segurança de poder dispor de um conjunto dessas usinas que seja viável, até 2020 - um objetivo que foi adotado pela UE em março.
Quem irá arcar com este investimento? "Este custo deve ser dividido entre a indústria, os países-membros e a Comissão Européia", considera Graeme Sweeney, o vice-presidente da Shell Future Fuels & CO2, um braço desta companhia voltado para os combustíveis do futuro. Sweeney reconhece que o domínio dessas tecnologias constituirá uma "oportunidade na disputa com a concorrência" para os industriais que estiverem envolvidos nesta empreitada. A captação poderia aplicar-se a quantidades de 6 a 7 bilhões de toneladas de CO2 por ano em 2050. Mas as incertezas ainda são grandes demais para que a implementação deste processo seja deixada por conta apenas do mercado, argumenta Sweeney: "Nós já identificamos mais de duzentas dessas tecnologias, das quais metade ainda precisa ser validada".
A Comissão Européia ainda não está disposta a se envolver financeiramente, mas ela prepara para o final deste ano uma diretriz que se destina a projetar as perspectivas em termos de regulamentação. "Nós vamos também estimular o desenvolvimento do mercado de câmbio de quotas de emissões, além de incentivar as ajudas estatais e os financiamentos por meio do 7º programa-padrão de pesquisas", enumera Jan Panek, da diretoria da energia e dos transportes da Comissão.
A França não está inativa. A companhia petrolífera Total já desenvolveu o seu próprio projeto de injeção de CO2 em Lacq (Pireneus Atlânticos, sudoeste). O Instituto Francês do Petróleo e o Bureau das Pesquisas Geológicas e Mineiras, que participam de diversos programas europeus, acabam de fundar, junto com a sociedade de engenharia Géostock, a Geogreen, une companhia especializada na avaliação das capacidades de armazenamento e de confinamento dos sítios geológicos. É neste campo que reside uma das principais incógnitas. Esta dúvida deverá ser dirimida, na resolução de cada caso, para conseguir obter o apoio da população.
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Le Monde, 07/10/2007)