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etanol
2007-10-05
Para Isaias Macedo, pesquisador do Nipe, da Unicamp, São Paulo tem estrutura para pesquisa em produção de cana-de-açúcar, mas não para desenvolver tecnologias de transformação industrial no setor.

O Estado de São Paulo tem uma base bem estabelecida para a pesquisa em produção de cana-de-açúcar. Mas precisa, com urgência, montar uma estrutura para o desenvolvimento de tecnologias de transformação industrial no setor.

A análise foi feita pelo pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Isaias Macedo, nessa terça-feira (2), durante o workshop Tecnologia e Ciência para o Desenvolvimento Sustentável da Bioenergia, realizado pela FAPESP e pela Comissão Especial de Bioenergia do Estado de São Paulo. Com o tema central “Cana-de-Açúcar e Outros Vetores Bioenergéticos”, o encontro deu continuidade aos debates realizados na comissão, criada em abril pelo governo estadual para elaborar o Plano de Bioenergia do Estado de São Paulo.

Coordenada pelo físico José Goldemberg, a comissão tem o objetivo de definir as ações necessárias para o desenvolvimento das atividades de geração de energia renováveis, além de avaliar e indicar ações que desenvolvam as cadeias produtivas de biodiesel e etanol no estado. De acordo com Macedo, o estado tem laboratórios, estações experimentais e pessoal qualificado para a pesquisa em produção, mas falta uma estrutura semelhante para desenvolver as tecnologias ditas radicais.

“Não há estrutura para o desenvolvimento de tecnologias de transformação industrial, como, por exemplo, as tecnologias de hidrólise e gaseificação que vão viabilizar o uso do bagaço e palha para produção de combustíveis comerciais”, disse Macedo à Agência FAPESP. Macedo acrescentou ainda que o estado precisará de mais recursos investidos no setor, com parcerias entre as agências de fomento à pesquisa e o setor privado. “O desenvolvimento de cada tecnologia desse tipo custa entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões em média.”

Segundo o cientista, o desenvolvimento dessas tecnologias é crucial para fazer do etanol um substituto viável para os combustíveis fósseis, já que permitiriam o uso da biomassa atualmente descartada. “Usamos apenas a sacarose, que corresponde a um terço da biomassa da cana-de-açúcar. A viabilização disso depende de muita pesquisa. Temos produtos em diferentes estágios de desenvolvimento, mas o campo para progredir é muito grande”, disse.

O biodiesel, segundo o especialista, está num estágio bem mais distante do uso comercial. “São necessários ainda cultivos mais adequados, processos com melhor recuperação de produtos e qualidade final, além de custos mais reduzidos. Há muita pesquisa a ser feita”, declarou. O prognóstico feito por Macedo é de que tanto o biodiesel como o etanol de segunda geração atingirão o plano comercial entre 2010 e 2020. “Até lá essas tecnologias deverão estar no mercado, mas com custo de produção ainda elevado.”

Revisão de estratégias
Para o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, um dos debatedores do workshop, o Brasil precisará rever sua estratégia geral no desenvolvimento de biocombustíveis, ainda que ela tenha sido bem-sucedida nas últimas décadas. “Nesses 30 anos, o avanço na área foi muito determinado pelo que o Brasil fazia. Mas há cerca de quatro anos os norte-americanos se tornaram um ator relevante no assunto, mudando a forma como avança o conhecimento”, disse.

Um dos principais aspectos da revisão da estratégia brasileira deverá ser, para Brito Cruz, uma maior articulação entre avanço tecnológico e avanço científico. “É natural que haja uma obsessão pelo fator tecnológico, mas o sucesso do país não dependerá só do conhecimento sobre produção. Será preciso levar em conta o conhecimento, por exemplo, sobre os impactos ambientais, sociais e fundiários dessa transposição de matriz energética”, disse. Brito Cruz lembrou que “apenas no Brasil é possível que se faça atualmente medidas, em grande escala, das emissões de carbono causadas pelo etanol”.

Para o cientista, é preciso encontrar uma maneira de articular contribuições da universidade, de institutos de pesquisa e empresas. “Há uma intensificação mundial do aspecto científico no setor. Temos que evoluir aí, ou deixaremos nossa posição de liderança”, afirmou.

O pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) Francisco Nigro acredita que o etanol é o líder atual na competição entre combustíveis renováveis para um substituto global para a gasolina, a ser adotado pela indústria automotiva. Mas outras opções poderão aparecer.

“Hoje estamos vivendo um momento muito bom, porque o etanol é o concorrente em vantagem. Mas a indústria automotiva vai trabalhar com a alternativa que estiver mais próxima da gasolina em termos de eficiência”. Nigro sugere a criação de um observatório de tendências para o setor. “Temos que ficar atentos para prever e acompanhar o movimento que a indústria global vai fazer, sabendo que hoje o principal vetor de sua evolução é o aquecimento global”, afirmou.

O pesquisador defendeu que a importância dos combustíveis renováveis é muito maior do que faz supor sua participação atual de 2% na substituição dos derivados de petróleo. “É uma importância estratégica, porque a indústria está desorientada, procurando uma opção de substituição do modelo atual”, disse.

Na avaliação de Nigro, a tendência é que apareçam múltiplas soluções para diferentes clientes. “Devemos pesquisar biocombustíves de segunda geração, adaptações de motores a diesel que possibilitem o uso total de biodiesel e desenvolver motores robustos que possam usar óleo vegetal in natura para aplicação em regiões remotas, por exemplo”, afirmou.

(Por Fábio de Castro, Envolverde / Agência Fapesp, 03/10/2007)

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