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desmatamento
2007-10-05

 

Todos os sábados o La Nación, o mais tradicional jornal da Argentina, tem um concorrido suplemento de agronegócio. Nas últimas páginas, dedicadas aos classificados, inúmeros quadradinhos trazem mensagens como “Santiago Del Estero. 10 mil hectares. Campo ideal para soja e gado.” As localidades e os tamanhos das propriedades em oferta variam, mas suas finalidades nunca. Os classificados do La Nación são uma triste evidência de um processo pelo qual a Argentina vem passando nos últimos anos: um alto índice de desmatamento de florestas nativas na região norte do país.

Emiliano Ezcurra, diretor de Campanhas do Greenpeace argentino, há meses vem recortando e colecionando esses anúncios do classificado. Ele argumenta que um desastre ambiental se esconde por trás dos quadrados com letras miúdas. São enormes nacos de terra de 10 mil a 30 mil hectares recém desmatados que ganham valor com a especulação propiciada pelo bom valor da soja no mercado internacional. As estimativas do governo e do Greenpeace são de que, nos últimos 8 anos, perderam-se 300 mil hectares anuais. Para manter a tradição competitiva de nuestros países, vale dizer que o Brasil está na frente com as derrubadas na Amazônia, cujo o último número é de 1,4 milhão de hectares/ano. Mas 300 mil h/a não é pouca coisa. É como destruir uma área semelhante a duas cidades de São Paulo ao ano.

Conhecido na Argentina como desmonte, o desmatamento está ocorrendo principalmente nas províncias de Santiago Del Estero, Salta, Missiones e Jujuy, todas no noroeste. Ali se perdem porções até então preservadas de bosques de chaco e florestas paranaenses, similares a nossa mata atlântica. A pressão é grande porque, ao contrário das províncias no sul, na região da Patagônia, o norte possui poucas e pequenas unidades de conservação. Nahuel Huapi, o mais famoso parque da Argentina, localizado nas franjas da Cordilheira dos Andes, tem cerca de 700 mil hectares, enquanto o Parque Nacional do Chaco tem meros 15 mil hectares. Entretanto, é na vegetação chaquenha que vive boa parte da biodiversidade da Argentina. Há felinos de médio porte como jaguares e o gato-onça e mamíferos de peso com o tapir, a nossa conhecida anta. Além disso, 60% das aves catalogadas no país têm seus habitats na região. “É um problema grave, estamos falando dos últimos bosques nativos e os ecossistemas menos protegidos na Argentina”, alerta Ezcurra.

Por conta da “emergência florestal” pela qual o país passa, ONGs lideradas pelo Greenpeace soltaram uma campanha para reunir 1 milhão de votos pela internet para pressionar o Congresso do país para que vote uma moratória ao desmatamento. Chamada de Lei dos Bosques, a proposta já passou pela Câmara dos Deputados, mas necessita ser aprovada no Senado Federal. A diretriz é que todas as províncias não liberem autorizações de desmatamento sem que tenham feito antes um ordenamento territorial. Ezcurra explica que a lei pode ser comparada a um semáforo, onde a luz vermelha representará todas as áreas de bosque nativos onde não serão possíveis as atividades produtivas. As regiões amarelas serão aquelas onde se buscará avançar com atividades sustentáveis, como manejo florestal e criação de gado consorciada a conservação. Por fim, a luz verde para a produção só acenderá nas terras já degradadas.

Interesses econômicos

Jorge Capato, diretor da Fundação Proteger, organização da Província de Santa Fé, na bacia do Prata, teme que a Lei de Bosques não será aprovada com facilidade no Congresso. Mesmo com a coleta dos milhões de votos e o apoio da Câmara, o Senado argentino tem um perfil mais conservador. “Há muitos interesses econômicos por trás”, aponta o ambientalista. Ele afirma que por enquanto são os pequenos agricultores ou comunidades indígenas que dependem da caça quem estão sofrendo mais com a perda da vegetação nativa. No longo prazo, a erosão de tributários do rio da Prata vai acabar afetando todos os produtores, lamenta Capato.

O apoio do governo federal de Néstor Kirchner à Lei dos Bosques não é tão evidente como desejam as organizações. Ezcurra acha que é dever da senadora Cristina Kirchner, esposa do presidente e principal candidata à sucessão nas eleições do próximo dia 28 de outubro, liderar a aprovação no Senado. “A maioria dos senadores são de seu partido e como candidata favorita deve mostrar comprometimento com o meio ambiente.”

Ao menos a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do governo Kirchner esteve presente no lançamento da campanha contra o desmonte ocorrida no último dia 3 de outubro, em Bariloche, durante o II Congresso Latino Americano de Áreas Protegidas. O Subsecretário Miguel Pellerano afirmou que o governo está iniciando a análise do desmatamento através de fotos de satélite o que permitirá maior planejamento territorial. Segundo ele, um dos grandes desafios é desmontar a cadeia especulativa que está por trás da degradação. O corte dos bosques geralmente é feito por especuladores que depois conseguem vender os campos para novatos interessados em ganho fácil com a soja. “Muitas vezes os compradores não têm a menor experiência em agricultura e compram terras que não servem ao cultivo de grãos”, pondera Pellerano.

(Por Gustavo Faleiros, OEco, 05/10/2007)

 


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