Uma empresa tem uma área administrada segundo as regras do desenvolvimento sustentável, respeita o corte de determinadas árvores, tamanho, diâmetro, espécies. Faz o plantio de novas mudas. A área é invadida várias vezes por grileiros, chegam a tirar 50 caminhões de toras de madeira por dia. Coisa típica da região do arco do desmatamento na Amazônia, que envolve o norte do Mato Grosso, sul do Pará, parte do Maranhão e do Tocantins, e o que sobrou de Rondônia. Estado com menor índice de florestas, menos de um terço do território. Atualmente protagonizou um escândalo político na assembléia legislativa. Deputados achacavam o governador. Onde também permanentemente uma reserva indígena vive ocupada por garimpeiros atrás de diamantes.
No Mato Grosso até recentemente um Comendador comandava boa parte dos políticos estaduais e municipais, imprimindo a sua marca em shopping - um colibri-, como no caso de Rondonópolis, e também no jogo do bicho. Era um cidadão acima de qualquer suspeita, até a morte do dono do jornal Folha de Cuiabá.
O Comendador Arcanjo, preso no Uruguai, mantinha um cassino perto da capital, Cuiabá, muito freqüentado pela elite, e denunciado uma vez, pelo jornalista Amaury Ribeiro Júnior no jornal “O Globo”. Ele e um fotógrafo estiveram no cassino. Agora foi baleado no “entorno” de Brasília, por qualquer desses integrantes do narcotráfico. Figuras iguais aos pistoleiros que mataram uma velhinha pelas costas no Pará, que virou um escândalo internacional porque era americana. Essa gente que não tem o mínimo escrúpulo, organizada em quadrilhas, atua em toda a Amazônia, região que detinha 3,6 milhões de km2 de florestas, a última grande floresta tropical úmida do planeta.
E que conta com uma população de 20 milhões de pessoas, grande parte migrantes, vivendo em péssimas condições. Um levantamento realizado por pesquisadores no ano 2000 registrou um índice de 45% de analfabetismo.
Nosso Próprio CódigoDiremos aos europeus – “tirem o olho gordo das nossas florestas”-, enquanto uma matilha dessa espécie toma conta de áreas importantes da Amazônia – que também é uma das 10 mais conhecidas marcas (siglas) do planeta, conforme pesquisa da ONU. No início do ano passado, um amigo meu de Sinop (500 km de Cuiabá), Clayton Arantes, produtor rural – arrendou a fazenda para montar uma produtora de vídeo -, perdeu um irmão no sul do Pará. O cara, caminhoneiro, foi fazer um trabalho na região e sumiu. Desconfiado ele foi atrás. Levou dois seguranças juntos, porque quem conhece um mínimo da região, sabe que a única lei que funciona é a do 38, que inclui outros tipos de armamentos. Descobriu que tinham roubado o caminhão, sumiram com o corpo e depois descobriu que era uma quadrilha de policiais. O que aconteceu? Foi preso pelos policiais. Só não morreu porque era articulado, tinha um site de informações no ar. O delegado quando o prendeu, disse: - Nós aqui no sul do Pará temos o nosso próprio código.
Ao invés de termos projetos envolvendo o mercado de biotecnologia – fatura mais de 800 bilhões de dólares por ano -, códigos genéticos de plantas, animais, microorganismos, mesmo tendo centros de pesquisas que já identificaram o potencial na produção de produtos farmacêuticos, cosméticos, alimentícios, bioinseticidas, enzimas, óleos essenciais, antioxidantes, corantes, frutas, farinhas, fibras, a Amazônia é o palco de quadrilhas, que fazem o que querem. O Estado brasileiro sempre foi omisso nesta situação.
Privatizar a FlorestaNão adianta ter um discurso de proteção da Amazônia, agora com a novidade de entregar parques nacionais às empresas – concessão de 40 anos, iniciada em Rondônia -, se na prática um bando de grileiros incendeia a região. Tem uma informação fundamental nesta questão: o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) faz o controle do desmatamento por satélite, não leva em consideração as áreas queimadas, nem as cortadas pelas madeireiras, que buscam as melhores madeiras, e deixam o rastro liberado para queimar, ou ser ocupada.
Um exemplo: no ano de 1998, com o incêndio de Roraima foram queimados 11.730km2, mais 15 mil km2 de área de extração seletiva das madeiras nobres. A área oficial do desmatamento foi de 17.383km2. Se a isso fossem somados aqueles dois itens, a área mais que dobraria – 44.113km2. Por isso, quando se fala oficialmente em redução do desmatamento, e aumento o número de focos de incêndio, é preciso ficar atento.
Os brasileiros gastaram US$ 5 bilhões em viagens ao exterior este ano, aproveitando o dólar baixo. Certamente, grande parte desses brasileiros nunca pisou na Amazônia. Não é uma região fácil para se visitar, tirando os grandes “resorts” ou hotéis naturais. Mas é justamente esta desinformação que está ajudando a condenar a maior floresta tropical do mundo à destruição, e a continuar sendo “administrada” por personagens citados aqui.
A Amazônia detém cerca de 100 trilhões de toneladas de carbono, usa cerca de 12 bilhões de toneladas de carbono na fotossíntese. Ela libera 7 trilhões de toneladas de água na atmosfera, é uma das fábricas de nuvens do planeta. Sua importância na manutenção das condições climáticas são evidentes. Neste momento, quando se fala em mudanças climáticas, o Brasil entra na estatística como o quarto emissor de gás carbônico do mundo, conseqüência das queimadas. A situação tende a piorar. A pressão vai aumentar. Antes de discutir sobre o interesse internacional na Amazônia, deveríamos é intervir na região do conflito. Não para figurar nos noticiários. Intervenção federal .
(Por Najar Tubino*,
EcoAgencia, 02/10/2007)
*Najar Tubino é jornalista, autor da palestra "Uma visão Holística e atual sobre a integração do planeta", que trata das mudanças climáticas, aquecimento global, extinção de espécies, o funcionamento dos sistemas que compõem e movimentam a vida na Terra, com data-show, ilustrada com imagens de satélite da Nasa. Pode ser agendada pelo telefone: (51) 96720363, e-mail:
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