A produção de biodiesel no Brasil, que vinha patinando há mais de uma década, teve em agosto seu maior salto de produção de todos os tempos. A menos de quatro meses para o início da mistura obrigatória de 2% de biodiesel ao diesel vendido no país, as empresas, finalmente, começaram a se preparar para fornecer o produto.
De julho para agosto a produção aumentou 42%, passando de 26,2 mil para 37,3 mil metros cúbicos. Nunca se produziu tanto biodiesel no país. Porém, ainda é preciso praticamente dobrar esse número até janeiro para que a demanda mensal inicial seja atendida.
O aumento de produção mostra que as empresas começaram a correr para cumprir o cronograma não obrigatório estabelecido para 2007 e, ao mesmo tempo, garantir o mercado que se abre em janeiro ainda sem espaço para todos.
Capacidade para produzir mais do que o dobro do necessárioCapacidade de produção não falta. Já há hoje infra-estrutura para produzir mais do dobro do que será necessário em janeiro. A demanda para atender aos 2% de mistura é estimada em 840 milhões de litros por ano, enquanto a capacidade instalada já está hoje em 2,18 bilhões de litros por ano, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
E além das 42 unidades já autorizadas pela ANP, existem ainda outros 42 pedidos em análise pela agência que poderiam elevar a produção em mais 1,4 bilhão de litros por ano.
Ou seja, há um excesso de capacidade de produção e por isso o governo estuda formas de elevar a demanda. Uma delas é o aumento gradual do percentual de biodiesel misturado ao diesel.
A União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio) estima que o percentual possa ser elevado para 3% ainda no primeiro semestre de 2008, depois para 4% no segundo semestre e, finalmente, para 5% em 2009, o que dependeria da regularização do fornecimento.
- O programa foi estruturado com foco na oferta. Houve um momentâneo descompasso, com oferta excessiva e pouca demanda, mas achamos que isso será equilibrado - diz o presidente do conselho administrativo da Ubrabio, Juan Diego Ferrés.
Outra forma de aumentar o consumo, lembra ele, é por acordos setoriais. Pode sair ainda neste mês, por exemplo, a aprovação do uso do biodiesel pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Caso a entidade conceda as garantias para o uso do combustível, seria criado imediatamente um mercado potencial de 2 bilhões de litros por ano.
Consumidor pode ter que pagar a contaUm dos motivos para que o cronograma não obrigatório montado para 2007 tenha atrasado é o preço do biodiesel, hoje cerca de 30% mais caro do que o do diesel comum.
O biodiesel pode ser produzido a partir de gorduras vegetais vindas de grãos como soja, milho, canola ou mamona. Também se faz biodiesel a partir de gorduras animais como sebo bovino ou gordura de frango.
Mas é da soja que vêm 80% da produção nacional e os preços do grão estão em forte alta no mercado internacional, pressionando os custos de produção.
A Petrobras vinha comprando o biodiesel dos produtores por um preço mais alto do que o de mercado. Mas com o início da mistura obrigatória a diferença de preço, ainda que residual, tende a ser repassada para o consumidor. A Ubrabio estima que a diferença não chegará a R$ 0,01 por litro e o preço total sairia de cerca de R$ 2,20 para R$ 2,21.
A entidade diz que o diesel responde por 42% do total de combustíveis líquidos consumidos no país. São usados 41 milhões de metros cúbicos por ano, sendo que seis milhões são importados.
Na semana passada, quando os dados de aumento da produção ainda não haviam saído, o jornal "Valor Econômico" manchetou uma reportagem sobre as incertezas no mercado de biodiesel, citando os temores com a alta capacidade de produção, o baixo nível de oferta e os preços pouco competitivos.
(Por Sabrina Valle,
O Globo Online, 03/10/2007)