São Paulo – Os carros flex fuel, movidos a álcool ou a gasolina, já representam 87,7% das vendas de veículos leves no Brasil. Esse mercado é crescente e deverá crescer ainda mais no país, se depender dos pesquisadores e empresários empenhados em somar a eficiência energética do álcool à capacidade instalada na indústria automobilística movida pelo combustível.
O assunto foi discutido na sexta-feira (28/09), último dia de atividades da Conferência Nacional de Bionergia (Bioconfe), em São Paulo, onde foram apresentados os números das vendas nacionais de veículos flex, que evoluíram de 48,2 mil unidades em 2003 para 376,6 mil em 2004, passando para 1,2 milhão em 2005 e 2 milhões em 2006. Desde o início de 2007 já foram vendidos 3,85 milhões de veículos, com previsão de 4 milhões até o final do ano, de um total de 20 milhões de automóveis em circulação no país.
“O grande apelo à venda de veículos flex no Brasil é ainda, sem duvida, o baixo preço do álcool combustível nos postos de gasolina”, disse Henry Joseph Júnior, Presidente da Comissão de Energia e Ambiente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). “Por isso, pela evolução das vendas, a frota de carros flex deve se equiparar à frota a gasolina no Brasil em 2012, quando teremos cerca de 12 milhões de veículos flex rodando no mercado brasileiro”, apontou.
José Carlos da Silveira Pinheiro Neto, vice-presidente da General Motors do Brasil, disse que, com exceção de dois modelos, que são movidos exclusivamente a gasolina, o restante da produção da montadora vendida no país tem sua versão flex fuel.
“São mais de 1 milhão de veículos flex já produzidos em nossas fábricas. Passamos a conveniência de escolha ao consumidor, que é o rei do nosso negócio. É claro que esse tipo de produto é definitivo no mercado brasileiro e hoje nenhuma montadora global despreza qualquer alternativa bioenergética”, afirmou.
Novo cenário energético
No painel Bioenergia e Indústria Automobilística no Brasil e no Mundo, além de ser responsável pelo crescimento do mercado de carros flex, Marcos Jank, presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), destacou a importância da cadeia econômica do álcool combustível como vantagem competitiva para o Brasil no cenário energético mundial.
“A cana-de-açúcar é a atividade agrícola mais antiga do Brasil e foi implementada em 1530 por Martim Afonso de Souza. E hoje ela está entre as atividades industriais mais modernas do país por ter sido a planta que mais avançou no mundo da energia. Não há nenhum outro exemplo agrícola que tenha ido tão longe”, lembrou Jank.
Ele apresentou números que justificariam, no seu ponto de vista, a inserção global do álcool, “de modo a tornar a cana-de-açúcar uma commodity mundial e os automóveis flex produzidos no Brasil um padrão de referência para a indústria automobilística de outros países.”
Com base em dados quantitativos das plantações, a estimativa da Unica é que haja uma expansão da produção brasileira dos atuais 430 milhões de toneladas de cana para mais de 1 bilhão de toneladas em 2020. “A expectativa é que, de 2020 em diante, não seja mais necessário aumentar a área plantada com as novas tecnologias que surgirão como a hidrólise de bagaço e o melhoramento genético das plantas de cana”, prevê.
Jank também tranqüilizou os empresários da indústria automobilística e os consumidores de carros flex presentes no encontro na capital paulista. “Além da segurança energética em tempos de crise do petróleo e de sua capacidade de reduzir emissões de gases do efeito estufa, o Brasil terá sim álcool em abundância nas próximas décadas. Somos líderes mundiais na produção agrícola e industrial desse combustível renovável”, explica.
Segundo ele, que é professor da Faculdade de Economia Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), com o aumento da área cultivada dos atuais 6,3 para 14 milhões de hectares em 2020, a produção anual de etanol deverá saltar de 18 para 65 bilhões de litros por ano.
“Hoje são produzidos 8 mil litros de álcool por hectare de cana, comparado a 3 mil litros do etanol a partir do milho, cultivado para essa mesma finalidade nos Estados Unidos. E os estudos científicos apontam ser possível chegar a 14 mil litros de álcool por hectare com a aplicação das tecnologias que estão em fase de desenvolvimento”, conclui.
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp /
Envolverde, 02/10/2007)