Empresa recebeu multa de R$ 500 mil e pode levar outra de R$ 7,2 milhões A água contaminada foi distribuída para 93% dos consumidores de Rio Verde (GO), segundo a Secretaria do Meio Ambiente da cidade
Um acidente em uma fábrica da Perdigão provocou a contaminação de um manancial e comprometeu o abastecimento de água em Rio Verde (241 km de Goiânia), em Goiás.
A Agência Ambiental do Estado aplicou multa de R$ 500 mil à empresa, que pode ser autuada ainda em R$ 7,2 milhões pela prefeitura.
Em 14 de setembro, uma falha em um sistema de bombeamento na indústria da Perdigão levou rejeitos de animais ao rio que abastece a cidade, que tem 133 mil habitantes.
A Saneago, empresa responsável pelo tratamento da água, não foi alertada em tempo, e o material vazado chegou aos consumidores.
A Secretaria do Meio Ambiente da cidade diz que houve aumento de casos de infecção intestinal no município nos dias subseqüentes ao acidente. A água contaminada foi distribuída para 93% dos consumidores da cidade, segundo a secretaria.
O acidente teve início durante a madrugada, após pane em equipamento que bombeava restos de animais para tratamento na fábrica da Perdigão. A unidade da indústria é a maior do Brasil na área de carnes, segundo a empresa.
Os detritos se espalharam pela fábrica, encheram e transbordaram de uma lagoa de contenção e atingiram o córrego Abóbora, onde é feita a captação de água para a rede de abastecimento público da cidade de Rio Verde.
O problema na fábrica só foi percebido e contido durante a manhã. Peritos estimam que tenham vazado pelo menos 400 m3 de matéria orgânica, o que equivale a 400 caixas d'água de mil litros.
A estação de tratamento de água da Saneago teve que interromper o fornecimento de água. Os consumidores foram orientados a esvaziar e a limpar as suas caixas d'água. A Saneago estima que em cada uma das residências tenha ocorrido uma perda de cerca de 7.500 litros de água.
A estação de captação fechou por algumas horas para limpeza de filtros e decantadores.
A Secretaria do Meio Ambiente de Rio Verde pretende multar a indústria em outros R$ 7,2 milhões. A Saneago vai pedir indenização pelos prejuízos causados à rede de abastecimento da cidade.
Papel e celuloseNa sexta-feira, um novo acidente voltou a ocorrer no mesmo rio em Rio Verde. Um vazamento de óleo, usado na caldeira de uma fábrica de papel e celulose da empresa Orsa, atingiu o córrego. O material não chegou a afetar a estação de tratamento de água.
A prefeitura e a Agência Ambiental de Goiás ainda avaliam os danos provocados pelo acidente. Segundo a agência, a região onde é feita a captação de água fica em um distrito industrial da cidade e fica sujeita a problemas ambientais.
Não houve negligência, diz empresaA Perdigão informou que o vazamento em Rio Verde (GO) foi uma "fatalidade" e que não houve "negligência ou omissão".
Ela afirmou que o vazamento ocorreu por canais pluviais subterrâneos e que não era facilmente perceptível. Técnicos suas pararam atividades assim que o problema foi notado, para estancar o vazamento. A Perdigão disse que o material provocou somente mudanças na cor e no odor da água consumida, sem causar danos à saúde.
A substância que vazou, de acordo com a empresa, continha apenas água com corante e gordura.
A Perdigão afirmou desconhecer suspeita de problemas de saúde na população após o acidente.
Já a Orsa, responsável pela fábrica onde ocorreu outro vazamento, diz que peritos da empresa estão avaliando, com supervisão da prefeitura, as causas do acidente e afirma que ampliará ações para evitar novos problemas.
(Por Felipe Bäctold,
Agência Folha, 04/10/2007)