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raposa serra do sol
2007-10-03
Há três meses o governo federal adia a retirada de arrozeiros da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.  O clima na área é de tensão.  Fazendeiros que mantêm plantações nos 1,7 milhão de hectares na reserva estão se armando para resistir à operação policial que pretende retirar arrozeiros que insistem em ficar na região.  Há ainda uma possibilidade de índios enfrentarem os produtores rurais.

Segundo José Nagib Lima, chefe do comitê gestor montado pelo Palácio do Planalto para administrar a desocupação das terras, uma operação militar vai retirar até o fim do ano todos os não-índios, inclusive os fazendeiros que ameaçam resistir.  O líder indígena Paulo Macuxi acusa os fazendeiros de estarem montando milícias.  “A gente teme que haja mortes dos dois lados”, disse.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia: a demora do governo em assentar as famílias de não-índios que estão na região e a protelação das ações policiais para retirada dos fazendeiros estimulam a resistência, principalmente nesse período de colheita de arroz.  O governador de Roraima, Ottomar Pinto (PSDB), acusa o Cimi de mobilizar os índios para enfrentar os fazendeiros.  Regina Coutinho, missionária que atua na região pelo Cimi, nega.  “As terras pertencem aos índios.  O problema é que o governo de Roraima não aceita a demarcação porque a rizicultura fomenta a economia”, defende-se.

Um decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2005 homologou a área, onde vivem 18,7 mil índios das etnias Macuxi, Wapixana, Ingarikó, Taurepang e Patamona.  O estado e produtores rurais recorreram ao Supremo Tribunal Federal para anular o processo.  Segundo a Associação dos Arrozeiros de Roraima (AAR), a reserva é responsável por 25% do PIB estadual.  “Por meio de nossa produção, empregamos cerca de 8 mil pessoas direta e indiretamente.  Mais da metade desses empregados é formada por índios”, afirma Izabel Itikawa, vice-presidente da associação.

Apesar da resistência, o superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Pedro Paulino, garantiu que mais de 50 famílias não-índias já assinaram o processo de titulação definitiva dos lotes que irão ocupar fora da reserva.  “Mas só podemos providenciar o assentamento depois que as famílias são indenizadas pelo governo.  E o cálculo das benfeitorias e a liberação do dinheiro demora.  Enquanto isso, os não-índios vão ficando na região e trabalhando na plantação de arroz”, explica Paulino.

(Por Ullisses Campbell, Correio Braziliense, 02/10/2007)


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