O aquecimento global fará com que muitos turistas fiquem em casa ao longo das próximas décadas, alterando radicalmente o padrão de viagens e ameaçando empregos e empresas em países que dependem dessa atividade, segundo uma sombria avaliação de especialistas da ONU.
O Programa Ambiental da ONU - Organização das Nações Unidas, a Organização Meteorológica Mundial e a Organização Mundial do Turismo disseram que as preocupações com o efeito estufa e a pressão contra as emissões de poluentes em viagens aéreas tornarão os vôos de longa distância menos atraentes.
Turistas da Europa, da América do Norte e do Japão tenderão assim a passar suas férias nos próprios países ou nas vizinhanças, aproveitando os verões mais longos, segundo os especialistas.
Em um relatório preparado para uma conferência da ONU sobre mudança climática e turismo, eles projetaram que o aquecimento global vai reduzir a demanda por viagens entre o norte da Europa e o Mediterrâneo, entre a América do Norte e o Caribe e entre o nordeste da Ásia e o Sudeste Asiático. "A redistribuição geográfica e sazonal da demanda turística pode ser muito grande para destinos individuais e países até meados para o final do século", disseram as agências.
"Esta mudança nos padrões de viagem podem ter implicações importantes, inclusive proporcionalmente mais gastos do turismo em nações (de clima) temperado e proporcionalmente menos gastos em nações mais quentes, agora frequentadas por turistas de regiões temperadas". Porém, o setor turístico como um todo deve crescer entre 4% e 5% ao ano, sendo que os desembarques internacionais devem atingir 1,6 bilhão em 2020, praticamente o dobro do número atual. Em alguns países pobres e insulares, o turismo representa até 40% do PIB.
Autoridades de países turísticos, como Maldivas, Fiji, Seicheles e Egito, disseram à conferência que as mudanças nos destinos e os danos ecológicos provocados pelo aquecimento global representam sérias ameaças para as empresas e os empregos nesses lugares. "O turismo é um catalisador da economia. Se você atinge o setor turístico, automaticamente isso abala todo o maquinário econômico", disse Michael Nalletamby, do Departamento de Turismo das Seicheles, durante a conferência de Davos.
Christopher Rodrigues, presidente da estatal britânica VisitBritain, disse que o setor precisa encontrar formas de reduzir os efeitos do turismo sobre o meio ambiente, o que por sua vez afeta o setor de saúde. "O maior risco é que o sucesso do setor turístico se transforme na sua própria ruína", disse ele na conferência.
(
Estadão Online, 03/10/2007)