Os quilombolas do Estado se reunirão nesta sexta-feira (05/10), na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), para protestar contra “a postura tendenciosa da Rede Globo”. Com o slogan “Globo, a gente não se vê por aqui!”, o ato é promovido pela Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).
A Conaq acusa a emissora de criminalizar e deslegitimar o movimento dos negros no país, pois produz matérias que distorcem os processos de titulação dos territórios negros. Eles apontam a emissora de acusar comunidades de falsificar documentos, fraudando os processos de legalização, já aprovados pela Fundação Palmares. Os quilombolas afirmam que a emissora manipulou os fatos.
“A Rede Globo possui várias concessões públicas de canais de televisão no Brasil que, por serem públicas, deveriam promover os Direitos Humanos e estar a serviço da sociedade em geral. Porém, o que se vê por aí é uma postura tendenciosa, em favor das elites e contra os interesses das classes populares”, diz a Conaq, em nota sobre a manifestação.
O ato será realizado simultaneamente, em várias regiões do país, e pretende marcar o Dia Nacional de Repúdio à Rede Globo. No Estado, acontece a partir das 14h, no Centro de Vivência da Ufes. Com isso, os negros pretendem alertar a sociedade sobre o papel da televisão e também questionar as concessões públicas.
A data foi escolhida por entidades envolvidas com a causa negra, pois nesse dia vencem as concessões da Rede Globo, TV Bandeirantes e TV Record.
A Conaq conta que o movimento já tentou ter espaço na emissora para responder a matérias veiculadas por ela, mas ainda não teve retorno. O movimento pretende buscar apoio do Ministério Público Federal.
Os quilombolas capixabas já iniciaram este processo. No último mês, eles se reuniram em audiência pública com a 6° Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, onde denunciaram arbitrariedades praticadas pela Aracruz Celulose, por empresas que plantam cana-de-açucar e por fazendeiros. Eles pediram apoio do órgão para a titulação de seu território.
À 6ª Câmara os quilombolas capixabas relataram a usurpação de suas terras, processo que se intensificou há 40 anos, com a criação da Aracruz Celulose. Segundo eles, a empresa tomou as terras dos negros ou comprou a preços vis, obrigando milhares de quilombolas a deixar a região e migrar para as cidades, onde ocuparam ou formaram favelas.
Os poucos quilombolas que conseguiram resistir são vítimas das violências praticadas pela empresa, por usinas de cana e fazendeiros, como vêm denunciando. A ação destes grupos, principalmente dos fazendeiros, vem se intensificando, pois o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) está realizando processos de titulação do território quilombola, como o de Linharinho, em Conceição da Barra.
Pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) confirmam que os quilombolas capixabas têm direito a um território de cerca de 50 mil hectares. Por lei, este território terá que ser devolvido à comunidade.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 02/10/2007)