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amazônia
2007-10-02
Novo estudo apresenta soluções para conciliar desenvolvimento e necessidades de conservação

Um plano de desenvolvimento sem precedentes para ligar as economias da América do Sul através de novos projetos de transporte, energia e telecomunicações poderia destruir grande parte da floresta tropical amazônica nas próximas décadas, de acordo com um estudo realizado pelo cientista Tim Killeen, da Conservação Internacional (CI).

Contudo, Killeen informa que este resultado desastroso poderá ser evitado caso sejam tomadas algumas medidas para conciliar as expectativas legítimas de desenvolvimento com a necessidade de conservar o ecossistema amazônico, de relevância mundial.

Killeen produziu um relatório de 98 páginas, intitulado “A Perfect Storm in the Amazon Wilderness: Development and Conservation in the Context of the Initiative for the Integration of the Regional Infrastructure of South America (IIRSA) [Uma Tempestade Perfeita na Selva Amazônica: Desenvolvimento e Conservação no Contexto da Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana (IIRSA)]”.  O estudo traz abordagens pragmáticas para a resolução do eterno paradoxo entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental.

O cientista, que trabalhou na região amazônica por 25 anos, apóia plenamente o plano da IIRSA, que compreende 12 nações e busca a meta histórica de superação dos obstáculos geográficos da selva amazônica para conectar as economias isoladas da região.  Os investimentos da IIRSA integrarão malhas rodoviárias melhoradas, hidrovias, represas de hidrelétricas e redes de telecomunicações por todo o continente – especialmente nas regiões mais remotas e isoladas – para permitir o aumento do comércio e a criação de uma comunidade sul-americana de nações.

A análise de Killeen indica que os projetos de desenvolvimento da IIRSA coincidirão com o crescimento das pressões sobre o ecossistema amazônico e suas comunidades tradicionais.  Dentre estas pressões encontram-se a mudança climática, a exploração madeireira, o desflorestamento para a agricultura e a exploração mineral, bem como o iminente boom dos cultivos para biocombustíveis, tais como a cana-de-açúcar.

“A falta de percepção do pleno impacto dos investimentos da IIRSA, especialmente no contexto da mudança climática e de mercados globais, poderá produzir uma tempestade perfeita de destruição ambiental”, diz Killeen.  “A maior área de floresta tropical do planeta e os múltiplos benefícios que ela proporciona estão em cheque”.

O estudo aponta três cenários possíveis para o futuro da região amazônica, e alerta que os projetos de infra-estrutura que forem desenvolvidos sem análises oportunas e minuciosas dos impactos ambientais provocarão os piores cenários – desmatamento generalizado e o eventual desaparecimento da floresta amazônica dentro de três ou quatro décadas.

“Nossa esperança é a de que este documento estimule a IIRSA a tornar-se uma iniciativa ainda mais importante e relevante, uma iniciativa que incorpore a visão de uma Amazônia ecológica e culturalmente intacta”, escreve Gustavo Fonseca, líder da área de recursos naturais do Fundo Global do Meio Ambiente (GEF - Global Environment Facility), no prefácio da publicação.  “A América do Sul tem um enorme incentivo econômico para conservar os serviços dos ecossistemas proporcionados pela Amazônia, juntamente com a consecução da real e efetiva integração regional.  Estas metas não são mutuamente exclusivas.”

De acordo com Killeen, a destruição da Amazônia em conseqüência dos atuais projetos planejados pela IIRSA teria um impacto profundo e de longo alcance.  A bacia do rio Amazonas é a maior reserva mundial de água doce, sendo que a vasta selva amazônica regula o clima continental, produzindo a precipitação anual que irriga a multibilionária indústria agrícola da bacia do rio da Prata até o sul.  O corte e a queimada da floresta amazônica poderão prejudicar seriamente esta indústria, e também destruir os vastos ecossistemas que abrigam os povos indígenas.  Poderão também aniquilar as mais ricas reservas planetárias de vida terrestre e aquática doce, e poderá exacerbar o aquecimento global através da liberação na atmosfera de enormes quantidades de carbono contidas na biomassa da floresta tropical – estimadas em cerca de vinte vezes as emissões mundiais totais de gases do efeito estufa.

Killeen argumenta que isso não é inevitável.  Ele observa que a floresta amazônica intacta poderá gerar bilhões de dólares em créditos de carbono no sistema de mercado que está sendo negociado em sucessão ao Protocolo de Kyoto.  Os cultivos para biocombustíveis, tais como a cana-de-açúcar, poderão ser plantados nos 65 milhões de hectares de terras já desflorestadas, ao invés de abater mais florestas para novas plantações.  Ele também defende outras soluções ambientalmente amistosas, como por exemplo a piscicultura, que utilizaria os abundantes recursos hídricos da Amazônia para criar oportunidades econômicas aos pequenos produtores e gerar uma receita de milhões de dólares.

“Uma iniciativa visionária como a IIRSA deveria ser visionária em todas as suas dimensões, e deveria incorporar medidas visando garantir que os recursos naturais renováveis da região sejam conservados e que suas comunidades tradicionais sejam fortalecidas,” escreveu Killeen.

(Conservation International / Amazonia.org, 01/10/2007)

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