A Coca-Cola quer ser verde. A maior fabricante de refrigerantes do mundo vem montando uma nova estratégia de atuação na tentativa de agregar à marca a preocupação com as questões ambientais - uma demanda cada vez maior dos consumidores que pode gerar lucro imediato. Levando a sério os riscos que as mudanças climáticas poderão provocar no seu negócio, a megacorporação, que produz 1,4 bilhão de litros de bebidas por dia em todo o mundo, apresentou na última semana, em fórum global organizado pelo ex-presidente americano Bill Clinton, um programa de reflorestamento no Brasil, orçado em R$ 27 milhões.
O plano conta com a parceria da Fundação SOS Mata Atlântica para recuperar áreas degradadas de uma bacia hidrográfica na região de Jundiaí (onde funciona a maior fábrica de Coca-Cola do país). O projeto é apenas uma pequena parte do esforço que a Coca-Cola Company, com sede em Atlanta, nos EUA, promete fazer já de olho numa nova exigência do mercado e também dos consumidores para comprar produtos que estejam associados a ações ambientais.
- Não somos a Madre Tereza dos refrigerantes, mas a companhia acredita que temos que fazer coisas pela sociedade. No futuro, apostamos que os investidores vão colocar recursos em empresas com atitude responsável - explicou o presidente da Coca-Cola Brasil, Brian Smith.
- As corporações sabem que têm que mudar, sabem que (o risco do aquecimento global) é real. E sabem que, se se mantiverem conservadoras, podem perder dinheiro - diz o pesquisador americano Tom Lovejoy, um renomado ambientalista que faz estudos na Amazônia há mais de 30 anos e atua como consultor da empresa no programa de reflorestamento no Brasil.
E a nova onda que começa a tomar conta da Coca-Cola Company pode ser notada dentro da estrutura da própria corporação. Há pouco mais de um ano foi criado um departamento para cuidar de clima e uso eficiente de energia. O gerente dessa área, Bryan Jacob, anda às voltas com difusão de novos refrigeradores que reduzem o consumo de energia, mas também utilizam gases menos agressivos ambientalmente. O técnico que faz parte da equipe "verde" da companhia é daqueles que carregam na agenda uma cópia do filme "Uma verdade inconveniente", do ex-presidente americano Al Gore.
- A companhia sempre teve preocupações sociais e com as questões ambientais. O que acontece é que agora nossa preocupação ambiental cresceu como também cresceu na sociedade - diz o chefe de Jacob, Jeff Seabright, vice-presidente para água e meio ambiente da Coca-Cola Company.
Nesse mesmo esforço para assumir a liderança em ações nessa área, há menos de três meses o quartel-general da Coca em Atlanta anunciou um programa ambicioso de reduzir o uso de água em todas as suas unidades de fabricaçào no mundo - até poder ser considerada uma empresa "neutra", ou seja, conseguir devolver ao meio ambiente água em condições de consumo na mesma proporção do volume que entra nas fábricas.
- Sem água não temos negócio. Ela está na base do que fazemos - afirma Seabright.
No ano passado, em todo o mundo, a Coca-Cola consumiu 290 bilhões de litros de água para produzir suas bebidas. Nos últimos cincos anos, a companhia conseguiu reduzir em 19% o volume que consome. Mas quer mais. No próximo ano, promete estabelecer metas mais rígidas de consumo.
Há ainda um programa para implantar um sistema "bottle to bottle", em que a garrafa PET utilizada em larga escala no mundo todo possa ser produzida a partir da reciclagem. A empresa quer implantar esse sistema no Brasil, mas ainda há restrições legais.
As ações da Coca-Cola, que se declara uma empresa com uma função social a cumprir, não são gratuitas. Há poucas semanas, a direção da empresa recebeu indicações claras de que a Tesco, rede de supermercados na Inglaterra, quer que os produtos que põe nas suas praleteiras digam o que fazem pelo meio ambiente e pela redução da emissão de carbono. A Coca sabe que, em alguns mercados, o componente ambiental é um valor a ser agregado ao produto, e por isso quer garantir sua fatia entre os consumidores "verdes".
A companhia já está disposta a incluir nas latas de três de seus produtos um símbolo que indique quanto da cadeia de produção está contribuindo para reduzir a emissão de gás carônico.
(Por Francisco Leali,
O Globo, 01/10/2007)