Os desastres ambientais provocados pelas mudanças climáticas farão aumentar o número de pessoas que tentam emigrar de regiões pobres do mundo para os países ricos, alertou na segunda-feira (01/10) António Guterres, chefe do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Em declarações feitas diante da comissão executiva da agência, o ex-primeiro-ministro português convocou a comunidade internacional a intensificar seus esforços para enfrentar os problemas responsáveis por alimentar os fluxos migratórios.
"Quase todos os modelos de previsão sobre os efeitos de longo prazo das mudanças climáticas apontam para uma contínua desertificação, a ponto de várias partes do globo tornarem-se inabitáveis", disse Guterres. "E para cada centímetro de elevação no nível dos oceanos, haverá mais 1 milhão de pessoas expulsas de suas casas." "A comunidade internacional não parece ser mais apta para enfrentar essas novas causas (da migração) do que é para evitar conflitos e a perseguição", afirmou.
O Acnur, com sede em Genebra, diz que até o final de 2006 ajudava cerca de 32,9 milhões de pessoas em todo o mundo que haviam fugido de desastres ambientais, das guerras, da miséria e da opressão étnica e política. Dessas, quase 10 milhões haviam cruzado fronteiras internacionais e eram consideradas oficialmente refugiados, segundo a terminologia da Organização das Nações Unidas (ONU); outros 13 milhões são considerados "internamente desalojados", ou IDPs, pois continuaram dentro de seus países. Outros 5,8 milhões são descritos como pessoas sem país.
Os demais 4 milhões incluem pessoas que estão em vias de serem repatriadas ou aquelas cuja situação exata não pôde ser determinada. Segundo Guterres, o número de pessoas que fogem de conflitos e da perseguição, em declínio durante vários anos do começo do século, começou a subir novamente em 2006 e aumentou ainda mais neste ano.
Crises como as enfrentadas pelo Iraque -onde mais de 4 milhões de pessoas foram expulsas de suas casas, fazendo dessa a maior população de "refugiados urbanos" da história- e pela Somália no Chifre da África alimentam essas cifras diariamente. O chefe do Acnur disse que o crescente número de migrantes no mundo todo se deve também ao desejo de muitos deles de "simplesmente não morrer de fome".
(Por Robert Evans,
Reuters, 01/10/2007)