Organizações ecologistas entregaram hoje (01/10) na sede do governo chileno um documento em que rejeitam tecnicamente os argumentos da indústria nuclear para privilegiar essa tecnologia ante a grave crise energética do país. Na véspera da entrega do documento que a Comissão Zanelli do governo fará, o relatório dirigido à presidente Michelle Bachelet destaca a dependência que a energia nuclear representa em relação a um recurso não-renovável (o urânio), atualmente escasso no mundo.
O boletim também desmistifica a tese de que os reatores "de geração rápida" (FBR, da sigla em inglês para "fast breed reactors) podem solucionar a escassez de urânio, pois os únicos protótipos no Japão e na França foram fechados por serem caros e inseguros. Segundo o documento, até hoje não há reatores com essa tecnologia em funcionamento no mundo.
Assim, o relatório desmente que a energia nuclear seja uma alternativa limpa para as mudanças climáticas no mundo, pois, embora durante a geração de energia o reator emita pouco dióxido de carbono (CO2), ao se somarem todas as emissões do ciclo de combustão (mineração, fabricação de combustível, reprocessamento e disposição final dos dejetos radioativos) as emissões são significativas e podem chegar a serem iguais a de uma central a gás.
O documento também mostra que a energia nuclear não é a mais barata, quando são considerados os custos de transporte, o desmantelamento das centrais no final de sua vida útil e a disposição segura dos dejetos radioativos por milhares de anos. Por fim, o relatório ainda nega que essa opção traria mais independência à matriz energética do Chile, já que o sistema de segurança e controle da tecnologia nuclear não permite o acesso do país a todos os processos.
"O Chile passaria a depender de uma dezena de países que podem fabricar combustíveis nucleares; de outros quatro que reprocessam dejetos e de um que aceita armazenar lixo radioativo de outros", afirma o documento. Por isso, para os ecologistas, incorporar a energia nuclear "significaria concentrar investimentos de grande escala em uma tecnologia complexa, perigosa e rejeitada pela cidadania e que afastaria o Chile da tendência mundial que aponta para o desenvolvimento de energias renováveis, socialmente populares e ambientalmente sustentáveis".
(
ANSA, 01/10/2007)