O especialista em política energética e presidente do conselho de administração da petrolífera portuguesa Partex, Antônio Costa Silva, disse à Agência Lusa que a Europa deve procurar aumentar o peso do Norte de África, da África Ocidental e da Bacia Atlântica enquanto fornecedores energéticos. Costa e Silva considera fundamental a vitalização de um "eixo mediterrânico" para potenciar as ligações da Europa com a Argélia, Líbia e o Egito e de um "eixo atlântico" para as ligações com a Nigéria, Guiné-Equatorial, Angola, Brasil e Venezuela.
"Se não se fizer isto, é um erro que se pode pagar caro", afirmou. Diante da queda dos recursos do Mar do Norte, que é a principal região produtora da Europa, o especialista defende também a aliança da União Européia (UE) com a Noruega, que tem recursos importantes no Ártico, atualmente sendo disputados pela Rússia, que quer alargar a sua fronteira para Ocidente de forma a apropriar-se desses recursos.
"A Europa não tem um pensamento geopolítico para lutar contra as intenções da Rússia", afirmou o especialista. A segurança energética da Europa e a sua dependência frente à Rússia é um dos problemas mais sérios da geopolítica da energia, disse Costa Silva à Agência Lusa. O especialista considera que o acesso da Europa aos recursos energéticos é uma preocupação e que, em breve, o Velho Continente ficará refém da Rússia, se não diversificar as fontes de abastecimento.
RússiaA UE importa 50% da energia que consome e dentro de duas décadas, se nada fizer, vai comprar do exterior 70% da energia de que necessita. O caso agrava-se quando essa dependência é estabelecida em relação à Rússia, um país que está utilizando o petróleo e o gás como arma geopolítica, afirmou Costa Silva.
A UE importa atualmente da Rússia 24% das suas necessidades de gás, mas dentro de 20 anos, com o declínio da produção do Mar do Norte, passará a importar 75%. "Se a Europa persistir nesta via e não diversificar as suas fontes de abastecimento, dentro de duas a três décadas vai ficar refém da Rússia", afirmou.
O problema, segundo Antônio Costa Silva, é que a UE não sabe lidar com a Rússia e se se analisar o perfil de investimento de Moscou percebe-se que os russos estão tentando controlar a rede de dutos e comprar ativos no downstream (refino, transporte e comercialização) em vários países europeus como a Alemanha, França, Reino Unido e Holanda.
A estratégia russa, segundo o especialista, é dominar o sistema energético europeu. "A Rússia deve ser um parceiro da União Europeia, mas isso só é possível se a Europa tiver outros parceiros e diversificar as suas fontes de abastecimento, o que não está fazendo por miopia política", afirmou.
Mercado europeu integradoO especialista defende também a criação de um mercado energético integrado e liberalizado em nível europeu. "Este é um elemento chave da segurança energética européia e por isso é necessário lutar contra os protecionismos nacionais, notadamente da França e da Espanha”, afirmou.
O especialista afirma que a experiência mostra que um mercado aberto e competitivo limita o poder dos monopólios e cria novas alternativas para o abastecimento de energia, reduzindo a dependência de um fornecedor único.
A segurança do abastecimento e dos mercados de energia será o tema do Lisbon Energy Forum que se realiza nesta terça-feira em Lisboa, numa organização conjunta da Fundação Mário Soares e da petrolífera portuguesa Galp Energia, que leva a Portugal os representantes de algumas das maiores empresas da indústria petrolífera mundial.
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Lusa, 01/10/2007)