Para se promover o aumento da produção pecuária, aliada ao incremento de volume das pastagens, a receita é simples: basta consorciar o gado com florestas. O sistema conhecido como silvipastoril vem ganhando espaço entre os produtores gaúchos e tem garantido bons resultados no campo.
A engenheira agrônoma e pesquisadora da Fepagro, Zélia Maria de Souza Castilhos, afirma que é possível elevar o ganho de peso do animal em até 700 gramas por dia por animal, durante o verão e cerca de 500 gramas por dia, no inverno. "Conseguimos produzir pastagens perenes de verão em pleno inverno, pois as florestas protegem o pasto das geadas e do frio", explica.
Para a pesquisadora, uma das grandes polêmicas da atualidade - o plantio de eucaliptos na metade Sul do Estado - pode ser minimizada se consorciada com a pecuária. "A implantação dessa espécie vegetal junto com a bovinocultura seria bem menos impactante ao meio ambiente." Na opinião de Zélia, que desde 1995 desenvolve um trabalho aliando o cultivo de acácia negra, com diversos tipos de forrageiras com gado de corte, a iniciativa seria viável também para promover o controle do capim anoni, uma planta invasora das pastagens. "A incidência de anoni é muito alta na Região Sul, por isso, a sombra da floresta de eucaliptos pode ser uma ótima aliada no controle dessa invasora, podendo dispensar até mesmo o uso de agrotóxicos", afirma.
Conforme o agrônomo da Emater de Ijuí, Pedro Urubatan, outra vantagem diz respeito à possibilidade de aumento da fertilidade das pastagens, a partir da adubação natural promovida pela floresta. "A árvore extrai nutrientes como o nitrogênio do fundo do solo. Este componente vai para as folhas que ao caírem sobre as forrageiras passam a atuar como adubo natural", explica. Para ele, a diminuição do estresse entre os animais também pode ser considerada outro ponto positivo do sistema, o que tende a aumentar a qualidade da carne. "As raças européias sofrem com as altas temperaturas", diz.
Um dos desafios, segundo Urubatan, é encontrar maneiras de estimular o desenvolvimento vegetativo das pastagens, já que a sombra dificulta a fotossíntese e o pleno desenvolvimento do pasto. "Verificamos que as forrageiras cultivadas na sombra têm um desempenho inferior em relação às cultivadas no sol. Porém, com a escassez de luminosidade, a planta se obriga a aumentar a sua área folhar, na tentativa de captar mais luz, e, com isso, acaba diminuindo a quantidade de substâncias de difícil digestibilidade, o que facilita a digestão e aumentar o consumo e o peso dos animais".
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JC-RS, 01/10/2007)