O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sugeriu, em reunião recente com o Núcleo Amigos da Terra Brasil, que está interessado em financiar as grandes construtoras para as obras da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira (RO). Em encontro da ONG brasileira com executivos e diretores europeus, na sede do Banco, em Washington, o diretor de infra-estrutura e meio-ambiente do BID, Roberto Vellutini, declarou que não vê projeto melhor que essa hidrelétrica para evitar o risco de um apagão em 2012.
Vellutini surpreendeu-se, no entanto, com os vários problemas que envolvem a obra, sobre os quais não estava informado. Lucia Ortiz, coordenadora do Núcleo Amigos da Terra Brasil, contou que o diretor não tinha consciência das questões políticas que envolvem a construção da barragem.
"Ele disse não ter conhecimento dos riscos políticos que esse projeto representa para a diplomacia da Bolívia e do Brasil. Também não tinha noção do que isso pode representar internacionalmente, já que as hidrelétricas podem causar grandes danos à biodiversidade, como extinção de algumas espécies de peixes, o que pode afetar a sensibilidade ambiental da área, considerada patrimônio mundial", afirma Lucia.
Para ela, Vellutini também não está completamente informado sobre os impactos ambientais da obra, mas afirmou interesse em financiar a construção: "o diretor acha que todos os problemas ambientais envolvidos no projeto podem ser mitigados, reduzidos, especialmente se o BID participar do financiamento. Ele disse que é melhor que o Banco entre para que a elaboração do projeto seja mais cuidadosa.", relata.
ContatoNa reunião, o diretor do BID também comentou que havia recebido pedido da construtora Odebrecht para garantias na empresa de uma forma geral, sem especificar o projeto no Rio Madeira. A proposta foi aprovada pelo Banco. Camargo-Corrêa e Suez também entraram em contato com a diretoria de infra-estrutura e meio-ambiente.
Por enquanto não há nada acertado, já que o BID só disponibiliza e aprova o empréstimo depois de passado o leilão de licitação da obra. "O que vimos é que esses consórcios estão com interesse em pedir um empréstimo para o BID, e o BID está com interesse em fornecer esse empréstimo, mas esse projeto ainda é virtual, não há nada concluído", relata Lucia.
RetrocessoA ambientalista salienta que, caso o Banco realmente aprove o empréstimo à construtora vencedora do leilão do Madeira, isso representará um retrocesso na política da instituição. Lucia Ortiz conta que faz quase 20 anos que os bancos multilaterais vêm aplicando uma espécie de moratória nas grandes construções, como obras de infra-estrutura e barragens, principalmente na Amazônia.
"É um retrocesso eles estarem considerando projetos que há muito já eram vistos como enormes riscos à biodiversidade, à Amazônia, passíveis de recursos. Mudou o paradigma do que é desenvolvimento sustentável?", questiona Lucia.
Outro ponto levantado pela coordenadora da ONG é a política do BID em não apoiar projetos envolvidos com esquemas de corrupção. Ela salienta que "quanto maior a obra, maior são as oportunidades de corrupção", e que o Banco deveria estar preocupado com isso.
(Por Eduardo Paschoal,
Amazonia.org.br, 28/09/2007)