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emissões de co2
2007-10-01
Mesmo sem assumir nenhum compromisso multilateral de combate ao aquecimento global, Bush convoca encontro de cúpula com 16 países. No começo da semana, presidente dos EUA ignorou reunião sobre o mesmo tema convocada pelo secretário-geral da ONU.

RIO DE JANEIRO – Com o pomposo nome de Reunião das Maiores Economias sobre Segurança Energética e Mudança Climática, começa na quinta-feira (27) em Washington o encontro entre governantes dos 16 países convocados pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para discutir questões ligadas ao aquecimento global. O encontro de cúpula, que vai durar dois dias, encerrará uma semana em que a questão ambiental dominou a pauta de discussões multilaterais. Aberta em Nova York, na terça-feira (25/09), a Assembléia Geral das Nações Unidas dedicou seu primeiro dia quase que exclusivamente às mudanças climáticas. Na véspera, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, reuniu representantes de 150 países para discutir o aquecimento global.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma intervenção marcante, com forte viés ambiental, na abertura da Assembléia Geral da ONU, onde o país tradicionalmente faz o discurso de abertura. Apesar de reiterar a posição do governo brasileiro, que não aceita assumir metas obrigatórias de redução das emissões de gases provocadores do efeito estufa, Lula procurou mostrar que o país está fazendo sua parte e citou diversas vezes a redução do desmatamento da Amazônia registrada nos últimos anos. Lula também apresentou ao mundo o Plano Nacional de Enfrentamento às Mudanças Climáticas que será lançado em seu governo e anunciou a disposição do Brasil de sediar, em 2012, a cúpula da ONU sobre Meio Ambiente Rio+20.

A posição a ser adotada por uma outra liderança que recentemente também passou a atuar de maneira incisiva nas questões ambientais, a primeira-ministra alemã Angela Merkel, é aguardada com expectativa em Washington. A Alemanha deve ser a principal porta-voz da insatisfação dos países da União Européia com a postura dos EUA frente às discussões sobre o aquecimento global, que permanece sendo a de não assumir nenhum compromisso com o Protocolo de Quioto ou qualquer outro acordo ambiental multilateral: “Pretendo manifestar a meus colegas a crescente impaciência com que os povos e os governos da União Européia estão encarando esse problema [do aquecimento global]”, disse Merkel, sem citar Bush diretamente.

O que quer exatamente o governo dos EUA com o encontro de cúpula que convocou ainda não está bem claro. O desprezo de Bush pela reunião convocada no início da semana pelo secretário-geral da ONU, na qual sequer compareceu, indica que o país não deve anunciar nenhuma mudança de rumo significativa. Descartada essa hipótese, resta a provável tentativa de enquadramento político dos outros países em direção a dois objetivos: a) garantir o fornecimento de energia que permita a manutenção dos modos de consumo e produção norte-americanos, como sugere o “segurança energética” no título do encontro; b) assegurar que os países em desenvolvimento também assumam metas quantificáveis e obrigatórias de redução das emissões de gases, o que permitiria aos EUA se manter ele mesmo longe dos compromissos.

Esses objetivos puderam ser pressentidos em alguns gestos de Bush ao longo da semana. O presidente norte-americano não economizou elogios aos líderes dos países que podem num futuro próximo se tornar grandes parceiros dos EUA na questão energética. Entre os chefes de Estado, o mais paparicado foi Lula, que chegou a ser qualificado por um entusiasmado Bush como “um evangelizador na questão do etanol”.

Outro gesto sintomático é a pressão exercida sobre China e Índia para que assumam metas significativas de redução para suas emissões. Representante dos EUA junto à União Européia, o diplomata Boyden Gray sugeriu em Washington que Bush está estudando a possibilidade de retaliar os dois países se as emissões de ambos continuarem aumentando: “Não poderemos fazer nada sem a ajuda dessas duas nações. Se houver um impasse, o governo não descarta a possibilidade de retaliações econômicas e comerciais”, disse.

Bolo em Ban Ki-moon
Com a participação de 150 países, o encontro para discutir as mudanças climáticas convocado para segunda-feira (24/09) pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, teria sido um sucesso, mas a ausência do anfitrião George W. Bush acabou deixando um travo amargo nos participantes. Apesar de ter enviado em seu lugar a poderosa secretária de Estado Condoleezza Rice, o presidente dos Estados Unidos, na prática, boicotou o encontro convocado pelo sul-coreano, que tinha o objetivo de amarrar as discussões multilaterais com vistas à 13ª Conferência das Partes (COP-13) da Convenção sobre Mudanças Climáticas da ONU, que acontecerá em dezembro na ilha de Bali, na Indonésia, e começará a definir a agenda a ser adotada pelos países a partir de 2012, quando terminará a primeira fase do Protocolo de Quioto.

Durante o encontro de Nova York, Ban Ki-moon não escondeu sua desaprovação à ausência de Bush e ao descaso demonstrado pelos EUA com a agenda multilateral: “A única coisa que não temos é tempo a perder. Não fazer nada agora significa provocar mais tarde um custo muito maior para todos nós. O tempo das dúvidas já passou e já temos acumulado conhecimento científico suficiente para agir imediatamente”, disse. O secretário-geral da ONU também alfinetou o encontro promovido por Bush em Washington: “Penso que o fórum apropriado para esta discussão é a ONU”.

(Por Maurício Thuswohl, Agencia Carta Maior, 27/09/2007)

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