O governo norte-americano promoveu, entre quinta (27/09) e sexta-feira (28/09), o Encontro das Maiores Economias sobre Segurança Energética e Mudança Climática. Representantes de 15 países, inclusive o Brasil, participam do evento, que teve a programação totalmente elaborada pela Casa Branca e enfrentou protestos de organizações contrárias à política ambiental de George W. Bush.
Chefe da delegação brasileira no encontro, o subsecretário-geral de Política 1 do Itamaraty, embaixador Everton Vargas, diz que "falta substância" na iniciativa. "O fórum adequado para essa discussão é o multilateral, é a Organização das Nações Unidas. Os países que vieram aqui tentam persuadir os Estados Unidos a finalmente ingressar nesse debate no âmbito multilateral", contou Vargas, em entrevista na embaixada brasileira em Washington.
Sexta (28/09), em um discurso de exatos 20 minutos, o presidente norte-americano, George W. Bush apresentou algumas propostas, citou números de investimentos do país em tecnologias sustentáveis e disse que os Estados Unidos vão liderar os esforços para conservar o meio ambiente sem comprometer o crescimento econômico. Para Bush, o essencial é investir em tecnologia.
"Acredito que a transferência de tecnologia é essencial. Mas não resolve tudo. Países como a China e a Índia precisam de energia para a área rural e precisam disso agora. Não podemos esperar novas tecnologias", pondera o embaixador brasileiro Everton Vargas. Sobre a aspiração dos EUA de liderar os debates, o diplomata finaliza: "Você só alcança a liderança quando tem ações".
Leia, abaixo, alguns dos principais trechos da entrevista concedida pelo embaixador:
Agência Brasil: Qual é o balanço dessa reunião promovida pelo governo norte-americano?
Embaixador: A reunião serviu muito mais para caracterizar o esforço dos Estados Unidos de sensibilizar o mundo e sua opinião pública de que eles estão fazendo alguma coisa na área de mudanças climáticas. A sociedade americana, o Congresso perceberam que não era mais possível ficar de fora desse debate. Mas eu acho que faltou substância. E esse é o sentimento que permeia os delegados que estiveram aqui. Esperava-se mais do governo americano. Agora, nós temos que olhar como será a Conferência de Clima da ONU, em dezembro, em Bali.
ABr: Como o sr. avalia esse fundo internacional para financiar tecnologias em energia limpa proposto pelo presidente George W. Bush hoje?
Embaixador: Precisamos ver como ele vai funcionar. Os Estados Unidos são sempre o primeiro país a dizer que estabelecer fundo é muito complicado. Quando propusemos em 1990 um fundo específico para a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, os Estados Unidos e os outros países industrializados foram os primeiros a dizer que era muito difícil estabelecer um fundo específico e que isso tudo tinha ficar no âmbito das instituições existentes. Vamos analisar a proposta desse novo fundo proposto hoje quando ela for feita de maneira mais concreta. Precisamos saber quais são os termos disso. O que o presidente Bush propôs foi uma idéia geral. E de idéia geral qualquer um pode viver.
ABr: No discurso para os representantes das maiores economias, Bush propôs também a eliminação de barreiras para exportação de equipamento para energia limpa. Qual é o objetivo dessa proposta?
Embaixador: Ela visa facilitar a venda de um equipamento que os Estados Unidos desenvolveram para diminuir as emissões das termelétricas a carvão. Ele quer mais facilidade para vender esse material. Os Estados Unidos são o país que tem o parque industrial mais avançado nessa área. São os maiores consumidores de carvão do mundo. Tem subsídio para a indústria de carvão aqui dentro. Negociações comerciais são no âmbito da OMC. É algo que a gente vai ter que olhar com cuidado. Não se trata de algo que nós possamos reagir assim de maneira imediata.
(Por Juliana Cézar Nunes, Agência Brasil, 28/09/2007)