O papel de liderança que os Estados Unidos buscam exercer no combate à emissão de gases poluentes depende de ações concretas nesse sentido por parte do governo americano.
É essa a opinião do embaixador Everton Vargas, subsecretário-geral para Assuntos Políticos do Itamaraty, que comandou a delegação brasileira na conferência sobre meio ambiente realizada em Washington nesta quinta e sexta.
O encontro, realizado na sede do Departamento de Estado americano, contou com a participação de 16 dos maiores poluentes mundiais, entre eles o Brasil.
''Você tem liderança quando você tem ações. O desafio é global. Isso não significa que alguns façam e outros não. A maioria no mundo ainda espera dos Estados Unidos um compromisso.''
Os americanos não ratificaram o Protocolo de Kyoto da Convenção da ONU em Mudanças Climáticas. O protocolo impõe às nações signatárias limites para a emissão de gases causadores do efeito estufa e já foi ratificado por 169 países.
O documento estipula que os países que o ratificaram reduzam seu nível de emissões a um índice inferior ao de 1990. Em 2012, vence o prazo que impõe índices compulsórios para a redução de emissões.
''Os Estados Unidos defendem uma postura voluntária em relação à fixação de metas para a redução de gases poluentes. Nós pensamos de forma distinta a esse respeito'', disse Vargas.
''As metas compulsórias contidas no Protocolo de Kyoto significam que você tem alvos específicos, e eles não cumpriram esse compromisso.'' Por isso, afirma o embaixador, é preciso ver como os americanos irão se posicionar após 2012.
Segundo Vargas, a reunião realizada em Washington nesta quinta e sexta não chegou a quaisquer conclusões definitivas e foi basicamente ''um brainstorm'' com vistas à Conferência da ONU de Mudanças Climáticas, que será realizada em Bali, na Indonésia.
''O evento foi organizado pelo governo americano, que montou toda a sua agenda. O governo não trouxe novas propostas em termos das posições americanas. O que vimos foi uma reiteração do que já foi apresentado antes.''
Mas Vargas acrescentou que o presidente americano, George W. Bush, surgiu com novas idéias em seu discurso para os participantes do evento, realizado nesta sexta-feira.
''O presidente Bush apontou duas coisas novas. Uma delas foi a proposta de criar um novo fundo para tecnologias limpas, que seria mantido com contribuições dos governos mundiais e ajudaria a financiar projetos energéticos em diferentes partes do mundo. A outra proposta é a de promover livre comércio global com tecnologias energéticas, através da eliminação de tarifas em bens energéticos e serviços.''
Mas ao mesmo tempo em que propõe um comércio livre em termos de tecnologias de energia, Vargas vê certa contradição por parte do governo americano.
''O presidente Bush enfatizou a importância do etanol, mas não mencionou as tarifas de US$ 0,54 cobradas sobre o etanol brasileiro exportado para os Estados Unidos. E isso é algo bem importante.''
De acordo com Vargas, o Brasil voltou a marcar posição em temas que tem apresentado em outros fóruns internacionais, como o de obter compensação por promover preservação florestal em seu território - proposta que foi apresentada no ano passado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na reunião sobre mudanças ambientais realizada em Nairóbi, a capital do Quênia.
''É uma proposta de incentivos econômicos, que seriam oferecidos aos países que conseguiram reduzir suas emissões através da preservação florestal. Para assegurar a preservação, seria criado um fundo que permitiria a essas nações receber algum tipo de ajuda financeira. Seria uma forma de recompensá-los.''
O embaixador também defendeu a necessidade de promover a transferência de tecnologias limpas para países em desenvolvimento.
''É um tema essencial para lidar com mudanças climáticas. Mas não podemos apenas dizer que iremos cooperar que tudo será resolvido. Porque é preciso investimento e amadurecimento, em termos de pesquisa, para que possamos chegar ao setor privado, que irá disseminar essa tecnologia.''
De acordo com Vargas, não é possível ''ficar esperando para que as tecnologias mais apropriadas cheguem até nós, enquanto as emissões continuam aumentando''.
O embaixador citou o exemplo da China e da Índia. ''Os dois países precisam gerar eletricidade para suas regiões rurais e mais pobres. Os chineses e indianos atualmente têm de recorrer ao carvão para gerar energia para estas áreas. E, por isso, vão precisar imediatamente da melhor tecnologia disponível.''
Vargas acrescentou que não é possível que estes países ''sacrifiquem suas regiões mais pobres em prol daqueles que querem simplesmente seguir guiando seus SUVs, que emitem mais de 50% de poluentes do que outros carros.''
(BBC, 28/09/2007)