Os maiores emissores mundiais de gases causadores do efeito estufa, incluindo o Brasil, participam nesta sexta-feira de uma discussão no Departamento de Estado dos EUA sobre o que fazer contra o aquecimento global. Eles foram recebidos com protestos em Washington. Contrariando críticos, que apontaram o encontro como uma tentativa de esvaziar as iniciativas da ONU, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, disse que o objetivo da reunião é acelerar os processos da Organização das Nações Unidas (ONU) no âmbito das mudanças climáticas.
Na abertura do evento, Rice afirmou que "apóia os pontos" da reunião sobre o clima realizada pela ONU na segunda-feira. Na ocasião, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, defendeu que os países desenvolvidos liderem a reação às mudanças climáticas. No dia seguinte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou o discurso de Ban.
- Nós queremos que a conferência da ONU sobre mudanças climáticas deste ano, na Indonésia, seja bem-sucedida - disse Condoleezza, em referência a Convenção Quadro da ONU que acontecerá em Bali, em dezembro.
Rice voltou a expressar a opinião dos EUA de que cada país deveria ter suas metas para limitar as emissões de gases do efeito estufa, com destaque para o dióxido de carbono produzido na queima de combustíveis fósseis.
Alguns, entre os quais manifestantes reunidos do lado de fora do local do encontro, no Departamento de Estado, perguntavam-se se tais metas voluntárias e nacionais funcionariam.
"Prezamos os sentimentos manifestados pela secretária Rice, mas o diabo está sempre nos detalhes", afirmou à Reuters o ministro do Meio Ambiente sul-africano, Marthinus van Schalkwyk.
- Esse é ainda o cerne do problema quando se trata das diferenças entre a postura dos EUA e a postura do restante do mundo - afirmou, referindo-se às metas nacionais e às metas globais. - Para nós, esse encontro serve para determinar se os EUA estão dispostos a mudar de postura - emendou.
Phil Clapp, do grupo americano National Environmental Trust, mostrou-se abertamente cético:
- Já ouvimos tudo isso do (atual) governo e eles continuam adotando medidas voluntárias em obediência a tratados que fracassaram 15 anos atrás.
O evento nos EUA foi convocado pelo presidente americano, George W. Bush, cujo governo é criticado por sua recusa em aceitar limites compulsórios para as emissões de gases do efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono. A Casa Branca defende metas "aspiracionais". (Veja como evoluiu a política climática de Bush)
Além de EUA e Brasil, também participam do evento União Européia (UE), França, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, Japão, Canadá, Índia, Coréia do Sul, México, Rússia, Austrália, Indonésia e África do Sul.
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, ratificada por mais de 180 países em 1992, entre os quais os EUA, recomenda a adoção de medidas voluntárias para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Quando esse tratado revelou-se ineficaz, negociadores do mundo todo elaboraram o Protocolo de Kyoto, que impôs metas compulsórias de emissão e criou um mercado para a venda de cotas de carbono.
Em 2001, o presidente dos EUA, George W. Bush, desistiu desse pacto.
Na segunda-feira, na Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 80 chefes de Estado e de governo haviam se encontrado para discutir o mesmo tema. Tanto na ONU quanto antes do evento em Washington, os enviados e parlamentares presentes pediram que os EUA assumam a liderança no combate ao aquecimento.
"A liderança dos EUA na área da mudança climática é essencial, não só porque se trata de um grande emissor de gases do efeito estufa, mas porque os EUA estão na ponta do desenvolvimento de soluções tecnológicas e em levá-las para o mercado global", disseram, em declaração conjunta os representantes especiais da ONU para questões climáticas, Gro Harlem Brundtland, Ricardo Lagos Escobar e Han Seung-soo, em entrevista no Capitólio de Washington.
Vários parlamentares americanos escreveram a Bush apontando "a necessidade de reduções reais na poluição (que causa) o aquecimento global, não metas aspiracionais".
A discussão de Washington não configura uma negociação climática formal, e sim um espaço para a troca de opiniões sobre gases do efeito estufa, segurança energética, desenvolvimento e comercialização de tecnologias e formas de financiamento - além de uma sessão de um dia inteiro, a portas fechadas, sobre "processos e princípios para estabelecer uma meta de longo prazo" contra as emissões.
Já a reunião de dezembro em Bali servirá para que comece a ser discutido um tratado que vigore após 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto, que estabelece metas compulsórias para a redução de emissões de carbono em países desenvolvidos. Os EUA abandonaram o Protocolo de Kyoto alegando que ele prejudica sua economia e deveria impor metas também a grandes países em desenvolvimento, como China e Índia.
(O Globo Online, 27/09/2007)