O debate é recorrente: ciência básica ou aplicada? Ontem, na posse do jurista Celso Lafer, 66, como o novo presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o governador de São Paulo, José Serra, pendeu levemente para um dos lados.
"Como o próprio Celso Lafer sublinhou no discurso [de posse] dele, lembrando Pasteur, não existe ciência aplicada, existe aplicação da ciência", afirmou Serra durante entrevista coletiva.
Muito antes que as recentes parcerias fechadas entre a própria Fapesp com a iniciativa privada sejam colocadas em xeque, tanto Lafer, quanto Serra, descartaram qualquer tipo de conflito entre a teoria e a prática. A fundação tem alguns programas que miram laboratórios privados em vez de públicos, como é o caso do que estimula a inovação tecnológica.
"A pesquisa aplicada é a aplicação da pesquisa básica. É natural que a pesquisa básica tenha esse desdobramento. Ênfase na pesquisa básica, mas na aplicação da pesquisa básica também, que é fundamental."
Segundo Serra, a Fapesp não vai deixar, e nem deve, de fazer pesquisa aplicada. "O desafio é a gente ir aprimorando esses dois campos", disse o governador, que em determinado momento cometeu um lapso que era recorrente nas primeiras décadas da Fapesp. Serra chamou a instituição de Sabesp.
"A Fapesp é uma instituição que contraria uma lei do serviço público: com a idade [a instituição tem 45 anos] ela tem melhorado", disse Serra.
No clima da cana O jurista Celso Lafer, que substitui o poeta e lingüista Carlos Vogt, atual secretário de Ensino Superior do Estado de São Paulo, não hesitou quando questionado sobre a prioridade que será dada às pesquisas sobre etanol: "Já temos apoiado a pesquisa nessa área tanto na universidade quanto na empresa", disse o novo presidente da Fapesp. "Um dos temas importantes também será o do meio ambiente", comentou Lafer.
Mas a primeira grande novidade do mandato, tudo indica, deve ser um programa especial para pesquisas sobre mudanças climáticas. A Fapesp e o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) articulam planos separados, mas que terão alguns pontos de conexão, sobre o tema. Ambos devem ficar prontos em breve.
Lafer, da Fapesp, corrobora a importância do tema. "Considero a mudança climática, que está ligada à questão da matriz energética, como sendo um tema muito importante. É um assunto que nós vamos examinar daqui para frente", afirmou.
Para dar a ênfase pedida por Serra, e enfrentar a complexidade pós-moderna como quer Lafer, a Fapesp terá, em 2008, R$ 517 milhões (1% da receita líquida do Estado).
A pesquisa básica hoje recebe 55% do total de recursos anuais da Fapesp.
(Por Eduardo Geraque,
Folha de S.Paulo, 28/09/2007)