A Cáritas Brasileira, entidade ligada à Igreja Católica, divulgou nesta quinta-feira (27/09) nota em que pede a retomada das ações de fiscalização contra o trabalho escravo desenvolvidas pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho. As atividades estão suspensas por tempo inderteminado desde a última sexta-feira (21), depois que o grupo sofreu interferências políticas. A nota diz que a suspensão das atividades por pressão política é “um ato de conivência com a prática do trabalho escravo”.
“A tentativa de políticos, sem compromissos com os trabalhadores, e árduos defensores do capital, do latifúndio e da devastação da Amazônia, de dificultar ou acabar com o Grupo Móvel, é um ato contra o povo brasileiro; e a atual suspensão por pressão desses políticos mercenários, dos trabalhos do Grupo Móvel por tempo indeterminado, é simplesmente um ato de conivência com a prática do trabalho escravo”.
O texto também é assinado por outras 14 entidades ligadas a movimentos sociais, como Comissão Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Movimento dos Atingidos por Barragem, Movimento dos Pequenos Agricultores e Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) do Pará.
Segundo a Secretaria de Inspeção do Trabalho do ministério, responsável pela coordenação da ações do grupo especial, a paralisação se deve a interferências de uma comissão externa do Senado. Os integrantes da comissão questionam a existência de trabalho escravo na fazenda Pará Pastoril Agrícola (Pagrisa), no nordeste do Pará, e pedem a apuração de eventuais abusos durante a fiscalização da fazenda, em junho.
Na ocasião, foram resgatados cerca de 1,1 mil trabalhadores que se encontravam em regime de escravidão. “O trabalho de Fiscalização do Grupo Móvel Federal deve continuar, pois o povo brasileiro e principalmente os trabalhadores necessitam cada vez mais do aprimoramento e rapidez, das ações do Grupo Móvel como parte extremamente importante nesse processo de erradicação do trabalho escravo”, defendem as entidades.
Para os movimentos sociais, não há dúvidas quanto à exploração de mão-de-obra escrava na fazenda Pagrisa. “Queremos exprimir também nosso repudio, quanto ao ato insano de políticos de todas as esferas do poder, ao declararem que não há trabalho escravo na situação encontrada pelo Grupo Móvel Federal na referida empresa”.
O “modelo anacrônico” de desenvolvimento no Pará, de acordo com a nota, é responsável por potencializar as desigualdades e “aberrações como o trabalho escravo, que reduz homens mulheres e até crianças a condições desumanas”.
(Por Juliana Andrade,
Agência Brasil, 27/09/2007)