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emissões de gases-estufa mercado de carbono
2007-09-28

As florestas desempenham um papel ambíguo no balanço de carbono trocado entre biosfera e atmosfera. Durante o processo de uso alternativo do solo, é fonte de gases de efeito estufa. Em outros momentos é sumidouro (seqüestradora de carbono excedente da atmosfera) quando está sob manejo florestal ou mesmo em condições naturais. Mas como estimar, de forma confiável, os estoques de carbono da floresta e as diferenças com o passar do tempo? A solução para essa questão é um dos assuntos tratados pela primeira tese de doutorado apresentada pelo Programa de Pós-graduação em Ciências de Florestas Tropicais (CFT) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

A tese: “Alometria, estoque e dinâmica da biomassa de florestas primárias e secundárias na região de Manaus”, defendida pela amazonense Roseana Pereira da Silva e orientada pelo pesquisador Niro Higuchi, da Coordenação de Pesquisas em Silvicultura Tropical (CPST), aborda temas como o uso do carbono como mercadoria a ser negociada sob o Protocolo de Kyoto, ou seja, além dos compromissos assumidos pelo governo brasileiro, por exemplo, inventário nacional de emissões.

A pesquisa também trata da viabilização do manejo florestal tornando-o mais competitivo em relação às outras formas de uso do solo amazônico, bem como sua contribuição por meio de uma metodologia para mensurar a quantidade de carbono da floresta, que pode ser utilizada no âmbito da Lei de Mudanças Climáticas (sugere a compra e venda de carbono e o pagamento de incentivos para quem evita o desmatamento), a qual foi criada pelo Governo do Estado.
Os resultados foram apresentados na segunda-feira (24/09), na sala de
seminários da biblioteca do Instituto. O trabalho foi desenvolvido na Estação Experimental de Silvicultura Tropical, localizada no Km 43 da BR-174 (Manaus - Boa Vista), tanto na floresta primária quanto na secundária e contou com o financiamento da Fundação de Amparo à pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O conteúdo do projeto consiste em uma síntese dos conhecimentos do
Laboratório de Manejo Florestal, que iniciou as pesquisas em 1987, sobre a metodologia utilizada para estimar o carbono da vegetação da floresta Amazônica. “O nosso curso de Pós-graduação oferece ao Governo do Estado a metodologia completa para fazer as estimativas do carbono da vegetação, o qual está sendo utilizado como oportunidade de negócio”, afirmou Niro Higuchi.

O pesquisador explicou que a metodologia foi adaptada pelo Instituto e
testada na região de Manaus. Para isso, foi preciso derrubar e pesar mais de 500 árvores ao longo de 20 anos de trabalho. Segundo Niro, se o Governo tivesse publicado a Lei de Mudanças Climáticas sem a técnica necessária para quantificar o carbono da floresta, ele teria começado da estaca zero. “É óbvio que o Governo não levaria 20 anos para desenvolver o método, mas demoraria uns dois ou três. Isso porque tanto para comprar quanto para vender carbono é preciso quantificar o carbono da floresta. Não existe nada igual na Amazônia e no mundo tropical”, ressaltou.

Niro disse que depois de derrubar e pesar as árvores eram necessários modelos matemáticos para ajustar as funções. Ou seja, descrever o peso da árvore, do carbono em função de variáveis em campo sem precisar derrubar e pesar a árvore novamente. E, segundo ele, hoje, o Inpa dispõe de equações matemáticas que utilizam o diâmetro para determinar a quantidade de carbono.

“Por meio dos modelos, apenas com uma fita métrica é possível medir o
carbono contido na árvore sem derrubá-la. Os modelos do Instituto chegam a esse nível de precisão”, comemorou. De acordo com Niro, existem dois modelos. O que utiliza a fita métrica (diâmetro) e o outro a altura total da árvore. “Quando os dois são aplicados em conjunto é possível medir o carbono de qualquer árvore da Amazônia”, destacou e acrescentou que a altura total da árvore é difícil de medir, por isso, optaram por usar apenas o diâmetro da árvore. Ou seja, o diâmetro à altura do peito (DAP), que é de 1,30 acima do solo. Contudo, a equação fica restrita não podendo ser utilizada no Alto Solimões ou Alto Rio Negro (Sul do Amazonas). Isso porque o tamanho da árvore varia de região para região, dependendo do nutriente encontrado no solo. “Ou nós vamos nessas regiões incluir a altura total ou desenvolver novas equações para essas regiões”, afirmou.

Metodologia

A doutoranda Roseana Pereira da Silva explicou que a metodologia consiste na parte destrutiva da pesquisa, ou seja, a derrubada e pesagem da árvore. Na ocasião, a mesma foi seccionada e foram separados os troncos, galhos, folhas, cascas e raízes para a pesagem de cada parte. Segundo ela, a parte mais trabalhosa foi à pesagem da raiz, pois foi feita a escavação do solo, o que exigiu força física.

Logo no início das pesquisas foram derrubadas e pesadas 315 árvores, as quais faziam parte dos arquivos do Laboratório de Manejo Florestal do Inpa. À medida que as aulas do curso de Manejo Florestal, por exemplo, de biomassa e aulas práticas eram ministradas, novas árvores foram sendo pesadas.

Segundo Silva, a escolha das árvores foi aleatória. Para participar do
processo, elas tinham que ter um DAP (diâmetro à altura do peito) de no mínimo 5 centímetros. Algumas eram selecionadas para se pesar as raízes, outras os galhos e as folhas, mas todas tinham a biomassa aérea pesada.

Em relação à contribuição do trabalho para a Lei de Mudanças Climáticas, Silva disse que foi uma feliz coincidência. “O plano para a tese de doutorado foi entregue em março de 2005. Na época ainda não se falava na Lei. Quando concluímos a pesquisa a lei foi apresentada”, ressaltou.

Programa de Ciências em Florestais Tropicais

Foi implementado em 1984, em nível de mestrado. Já foram formados pelo programa mais de 130 mestres. Em 2004, foi implantado o doutorado. “Hoje, formamos o primeiro doutor. O programa é o único em Ciências Florestais Tropicais da Amazônia Legal. Estamos formando recursos humanos na Amazônia alinhados com a perspectiva sobre mudanças climáticas e criando novas demandas para o desenvolvimento sustentável da região”, disse o coordenador do Programa, José Francisco de Carvalho Gonçalves.

(Por Luís Mansuêto, Inpa/Envolverde, 27/09/2007)


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