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extinção de espécies
2007-09-28
Tsring Angmo, estudante da localidade indiana de Rumbak, na região de Ladakh, assistiu, por pura curiosidade, um seminário da organização não-governamental internacional Conservação do Leopardo das Neves, com sede nos Estados Unidos. “No final, me sentia responsável pela segurança desta espécie em perigo”, afirmou a jovem. A associação, conhecida por sua sigla em inglês SLC, a treinou para rastrear leopardos e trabalhar como guia em Ladakh, uma fria e seca região a grande altitude na província indiana de Jammu e Caxemira. Telefones inteligentes e outros aparelhos de mão se convertem, mediante programas de informática utilizados no rastreamento, em dispositivos que permitem às comunidades locais se envolver mais efetivamente na proteção da biodiversidade.

A sinergia entre o conhecimento dos moradores e a tecnologia da informação e comunicação se revelou como um elemento que melhora notavelmente o cuidado ambiental. “Os sinais registrados pelos rastreadores são colocados em computadores para a elaboração de um mapa dos locais onde o avistamento dos leopardos é mais comum”, explicou Rigzin Tundup, engenheiro da aldeia de Ang que também se converteu em um cruzado da proteção destes animais após participar de uma reunião da SLC. Cerca de 20 jovens de Ladakh foram treinados para vigiar regularmente a população de leopardos da neve. Durante o verão ganham dinheiro guiando turistas pelas áreas onde é possível ver estes animais.

Tímidos por natureza, os leopardos raramente são vistos, mesmo por pastores que dividem com eles seu habitat montanhoso. Mas isto não faz mais do que estimular o apetite dos turistas e entusiastas da vida silvestre, que permanecem dias na região até conseguirem avistar um. A SLC começou em 2000 seu programa de conservação em 3.350 quilômetros quadrados do Parque Nacional Hemis. Isto foi depois que um estudo revelou, em 1998, que os moradores do vale de Markha e aldeias vizinhas perderam 12% de seu gado por causa dos predadores. Cada família de pastores perdeu, em média, seis animais, com prejuízo econômico estimado de US$ 23.500.

Atualmente existem apenas entre 4.500 e 7.500 leopardos da neve, distribuídos em diversas regiões da Ásia Central. Seu habitat está estreitamente relacionado com a disponibilidade das espécies das quais se alimentam. Trata-se, fundamentalmente, do bharal ou cabra azul, que vive no Himalaya e no Tibet, e o íbice ou cabra selvagem, encontrado na cordilheira de Karakorum e nas montanhas da Mongólia e Rússia. As ameaças a esta espécie em perigo incluem a redução de seu alimento natural, caça ilegal, degradação do ambiente nas montanhas e conflito entre animais e seres humanos. Ladakh é um dos últimos “paraísos” que restam no planeta para os leopardos.

Por causa do esgotamento de seu alimento natural, os leopardos começaram a atacar o gado criado pelos pastores locais, e dessa forma se converteram em um predador que começou a ser perseguido e morto, com risco para a sobrevivência da espécie. Não os ajuda a sua exuberante pele, de cor cinza-claro com manchas negras ou marrons, altamente desejada. Os ossos e outras partes do corpo também têm demanda devido ao seu uso na medicina tradicional asiática. Sua comercialização foi declarada ilegal, mas, de todo modo continua.
“Tomamos consciência de que havia uma necessidade de intervir, mas a conservação é impossível se a comunidade não está envolvida”, disse Rinchen Wangchuk, diretor do capitulo indiano da SLC. A associação lançou, então, um programa participativo de conservação e supervisão. Com apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unicef), a SLC começou com membros da comunidade local em uma campanha de conscientização sobre os benefícios sociais e econômicos da proteção da fauna selvagem. Também treinou jovens para trabalharem como guias.

A maioria dos moradores dependia exclusivamente da agricultura e do pastoreio. Para oferecer-lhes uma fonte de renda adicional a SLC fornece ajuda para levar adiante projetos turísticos, nos quais visitantes, em sua maioria estrangeiros, são alojados em casas das aldeias de Ladakh e têm a oportunidade de desfrutar de sua tradicional hospitalidade. A condição para receber ajuda técnica e financeira da SLC nos empreendimentos turísticos foi que nenhum leopardo ou suas crias fossem mortos pelos aldeões.

Dez por cento dos ganhos são destinados a um fundo de conservação das aldeias. Setenta famílias nas escassamente povoadas áreas de Ladkah e Zanskar e outras 30 em Spiti agora são parte do projeto. Cada uma delas recebeu, em média, US$ 98 na última temporada turística. “Pude enviar meus filhos a uma escola melhor graças a isso”, disse Padma Dólmã, que vive em Rumbak. “Contribuímos com gosto para o fundo de conservação desde que percebemos que os leopardos são um enfeite de nossas montanhas”, acrescentou.

A SLC também forneceu assessoramento para impedir que os predadores tivessem acesso ao gado, o que constituiu outro elemento-chave do degelo das relações entre a comunidade local e os leopardos. “Costumávamos ficar acordados durante toda a noite em meio ao frio para vigiar nossos animais”, recordou Tashi Largyal, da aldeia de Sku-Kaya. “Agora fechamos as ovelhas e as cabras e vamos para casa. Os leopardos não podem entrar nos currais e voltaram a caçar cabras azuis”, explicou.

Na aldeia de Largyal há pouco tempo foi colocado um cartaz para atrair os amantes da natureza e turistas ecológicos que diz: “Bem-vindos à capital mundial do leopardo das neves”. A SLC “está fazendo um trabalho de grande qualidade para equilibrar a conservação com o sustento dos moradores’, disse o diretor do governamental Instituto de Pesquisa Florestal de Jammu e Caxemira, C. M. Seth. “Seus esforços são um perfeito exemplo de como se pode conseguir uma mudança de atitude motivando as comunidades locais a assumirem a administração da conservação”, afirmou.

(Por Íris Philips IPS/IFEJ, 27/09/2007)
Este artigo é parte de uma série sobre desenvolvimento sustentável produzida em conjunto pela IPS (Inter Press Service) e IFEJ (siglas em inglês de Federação Internacional de Jornalistas Ambientais).



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