Previsível a reação do lobby nuclear às discussões sobre a mudança climática em Washington esta semana. "Sem a energia atômica o cumprimento das metas de emissões custarão muito dinheiro", declarou terça-feira (25/09) em Berlin o presidente da Federação das Indústrias da Alemanha (BDI), Jürgen Thumann. A entrevista coletiva havia sido convocada para anunciar os resultados de um estudo sobre as possibilidades de redução dos gases estufa emitidos pela indústria. Isso sem afetar o crescimento econômico e a qualidade de vida do país, é claro.
Encomendado à consultoria norte-americana Mckinsey, o estudo examinou 300 medidas para reduzir entre 31% e 36% as emissões alemãs até 2020. Além da manutenção das usinas atômicas, também foram considerados investimentos em eficiência energética e térmica (ex.: melhoria no isolamento dos imóveis) e o desenvolvimento de novos padrões técnicos (ex.: queima limpa de carvão e automóveis com motores híbridos).
Interessante notar que apesar de várias outras possibilidades técnicas a BDI ter destacado logo a geração nuclear. E tingindo o anúncio com tons alarmistas. "Grande parte das indústrias deixarão o país", profetizou Jürgen Thumann com referência aos custos para substituir os 20% de eletricidade produzidos por usinas atômicas na Alemanha. Segundo o cronograma estabelecido pelo governo em 2000, todas as 17 usinas atômicas alemãs hoje em funcionamento serão desligadas até 2025.
Mas o estudo da BDI representa apenas mais um round da disputa pela definição de uma política energética européia. Principalmente nuclear. Na primeira semana de setembro o jornal francês Les Echos trouxe a notícia de que o governo de Nicolas Sarkozy estuda a fusão entre o grupo Areva (Nuclear) e o Alstom (Metal-mecânica e energia). A proposta foi mau recebida pela Siemens alemã, dona de 34% do capital da Areva NP, empresa de reatores atômicos do grupo francês. O problema é que o conglomerado alemão concorre com o Alstom em diversas outras áreas, e ficaria em posição desconfortável ao dividir espaço com a concorrente no conselho de administração da Areva.
Para encontrar uma solução, o governo francês contratou uma consultoria. Qual? A McKinsey. A missão é mais complexa que a distribuição de assentos no comando de um grupo privado. O impasse tem raízes nas diferenças entre as políticas energéticas dos dois países. Ao visitar Berlin em 10 de Setembro para a cúpula franco-germânica, o presidente francês foi direto ao ponto. "A Alemanha precisa abandonar sua oposição à energia nuclear", ensinou Sarkozy com sua já conhecida soberba.
O fato é que ambos os países estão em busca de um mesmo conceito volátil: segurança energética. A diferença se concentra principalmente nos contextos. Enquanto franceses dependem de suas usinas atômicas para a produção de mais de 80% da sua eletricidade, alemães se preocupam cada vez mais com sucessivas panes e acidentes em seus reatores atômicos.
(Por Mariano Senna, com informações do The Independent, da Reuters e do Berliner Zeitung, 27/09/2007)