As colméias de abelhas melíferas perderam população nos meses de inverno no Rio Grande do Sul, mas os dados disponíveis são insuficientes para afirmar que o fenômeno do despovoamento tenha as mesmas causas da "síndrome do colapso das colônias", calamidade que ocorre desde 2006 na América do Norte. A opinião é do agrônomo Aroni Satler, professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS e presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul, estado líder na produção de mel no Brasil.
No Sul, os agrotóxicos são um das causas mais comuns da morte de abelhas, mas não há pesquisas sobre o efeito cumulativo dos pesticidas contidos em plantas transgênicas, apontado como uma das causas prováveis da misteriosa mortandade de abelhas nos Estados Unidos e no Canadá. Pelo menos até agora, portanto, a mortandade de abelhas no Sul nos últimos meses está associada ao frio e à chuva.
Em invernos muito rigorosos, como foi o de 2007, os insetos sofrem com a desnutrição, tornando-se presa fácil de doenças que podem dizimar as colméias, provocando queda na produção de mel e na renda dos apicultores. A abelha européia criada no Brasil (Apis melifera) é muito atacada pelo ácaro varroa, é vulnerável a um protozoário e recentemente se tornou alvo do vírus tipo Israel.
Entenda o casoA morte de milhões de abelhas começou na Flórida há alguns meses e já se tornou uma síndrome sinistra que liquidou com metade das colméias norte-americanas. Os apicultores e os técnicos ainda não chegaram a uma conclusão sobre as causas da mortandade. Trata-se de uma epidemia incrível e de uma amplitude assombrosa: as abelhas simplesmente abandonam as colméias, desaparecem.
O problema também chegou à Europa. Na Alemanha, segundo a associação nacional dos apicultores, um quarto das colméias foi dizimado. Alguns apicultores perderam 80% de suas abelhas. Algo semelhante ocorreu na Suíça, na Itália, em Portugal, na Grécia, na Espanha, Áustria, Polônia, França e Inglaterra. No Brasil não há registro do problema, ou então o pessoal está cauteloso, já que as abelhas são costumeiramente muito vulneráveis a doenças.
Além dos prejuízos na produção do mel, o problema preocupa porque 80% das espécies vegetais necessitam das abelhas para a polinização. Sem abelhas, cairá a produção de muitas frutas e verduras. Nos Estados Unidos, as colheitas que dependem das abelhas são avaliadas em 14 bilhões de dólares. Se o problema não for solucionado, pode-se pensar num colapso da produção de algumas lavouras.
Nos Estados Unidos a morte maciça das abelhas está sendo atribuída principalmente à contaminação por um novo pesticida à base de nicotina. O agrotóxico é distribuído por uma multinacional alemã sob diferentes marcas: Gaucho, Merit, Admire, Confidore, Hachikusan, Premise, Advantage
Os agrotóxicos são uma causa recorrente de morte de abelhas. Mesmo a uma baixa concentração, a utilização deste tipo de pesticida destruiria as defesas imunológicas das abelhas. Acredita-se também que as abelhas possam estar sendo atingidas por fungos-parasitas usados no controle biológico de pragas agrícolas.
Segundo alguns especialistas, as abelhas podem estar sendo vítimas do efeito cumulativo dos pesticidas produzidos pelas plantas geneticamente modificadas. Os transgênicos seriam portanto o vilão da história. As autoridades sanitárias, que autorizaram a pesquisa, o cultivo e o comércio de plantas geneticamente modificadas, estão demorando a tomar providências para evitar o extermínio das abelhas. Alguns ambientalistas já estão exigindo "uma proibição maciça de pesticidas sistêmicos".
(Por Geraldo Hasse,
Jornal JÁ, 25/09/2007)