A Aracruz reiterou ontem (26/09) seus investimentos no Rio Grande do Sul. Walter Lídio Nunes, diretor de Operações da empresa, apresentou números da ampliação da base florestal no estado e sobre o projeto de quadruplicação da unidade de Guaíba, que envolve ainda melhorias na infra-estrutura do RS. O executivo destacou o crescimento de 9% ao ano da empresa e a capacidade de geração de empregos diretos e indiretos nos três estados onde atua, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Sul. "Geramos nove mil empregos diretos e quase cem mil indiretos", afirma.
Nunes aproveitou para rebater o argumento de que a Aracruz seria uma multinacional de capital estrangeiro. "Somos uma empresa de capital nacional", disse. O controle acionário da Aracruz é exercido pelos grupos Lorentzen (do empresário norueguês Erling Sven Lorentzen, casado com a princesa Ragnhild, irmã do rei Harald V,), Safra e Votorantim (28% do capital votante cada) e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com 12,5% das ações.
Base FlorestalNunes avaliou que o projeto está sendo melhor encaminhado após
o governo do Estado pedir agilidade à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Entre plantios próprios e de produtores consorciados, o programa prevê a elevação dos atuais 100 mil hectares para 250 mil, incluindo os 90 mil hectares de mata nativa preservada, distribuídos em 32 municípios. "Queremos evitar maciços contínuos de eucalipto", assegurou o executivo.
A atual planta de Guaíba produz 450 mil toneladas de celulose branqueada por ano. Com a quadruplicação planejada, a produção ficará em torno de 1,8 milhão de toneladas anuais. O diretor de Operações salientou que, desde a chegada ao Rio Grande do Sul em 2003 quando adquiriu a Riocell, a Aracruz já investiu mais de US$ 700 milhões. "Constatamos (no Rio Grande do Sul) um ambiente sócio-político favorável por isso entendemos que existe uma aceitação da Sociedade", justificou ao ser questionado sobre a oposição de movimentos sociais e ongs ambientalistas aos plantios de eucalipto no Pampa.
Sobre a tecnologia empregada na fábrica de Guaíba, Nunes acrescentou que será utilizada uma "tecnologia adotada pelo Mercado Comum Europeu" e que projetos modernos como o da quadruplicação de Guaíba usam cada vez menos espaço físico mesmo que a produção seja ampliada algumas vezes mais. A meta da direção da Aracruz é colocar a nova fábrica em funcionamento a partir de 2010. Nunes acrescentou que em dezembro deste ano o projeto será apresentado para os acionistas para uma "aprovação final" e sendo necessário para isto ocorrer, a licença ambiental da Fepam.
EIA-RimaO Estudo e Relatório de Impacto Ambiental da quadruplicaçao da Aracruz (EIA-Rima) já está a disposição do público na biblioteca da Fepam e na prefeitura de Guaíba. O documento de 900 páginas é peça essencial no processo de licenciamento da obra que culminará em Audiência Pública marcada para o próximo dia 25 de outubro no Parque "Coelhão", em Guaíba. Segundo o coordenador de Pesquisa Tecnológica, Qualidade e Processo e gerente de Qualidade e Meio Ambiente da Aracruz, Clóvis Zimmer, o documento foi desenvolvido durante oito meses e
a Fepam montou uma equipe de 12 técnicos para realizar a análise, sob a coordenação do engenheiro Renato Chagas. De acordo com a empresa consultora que elaborou o estudo, a EcoÁguas, a tecnologia que será empregada para minimizar os danos ao meio ambiente é superior à utilizada atualmente.
O engenheiro ambiental que gerenciou o estudo, Nei Lima, da EcoÁguas, diz que o EIA/Rima prevê a redução do volume de carvão queimado por tonelada de celulose produzida, através da criação de uma caldeira de biomassa. Além disso, segundo ele, o volume de água captada do Guaíba e a geração de efluentes por tonelada de celulose seriam reduzidos drasticamente. Um dos fatores que tornaria isso possível seria a utilização de torres de refrigeração no sistema de resfriamento da fábrica. Zimmer afirma que a tecnologia que será implantada, no que diz respeito às emissões aéreas, traz melhores condições de controle do que as que a empresa dispõe hoje.
Em relação ao meio hídrico, embora esteja previsto o aumento de carga produzida, ele garante que não haverá alteração na qualidade da água do Guaíba. Acerca do ruído que a indústria emite, o coordenador informa que o EIA apresenta um capítulo específico sobre sistemas de abafamento e contenção. O diretor de Operações, Walter Lídio Nunes destacou que o EIA-Rima acompanhou o Termo de Referencia elaborado pela Fepam que "é bastante rígido, mas dá a garantia ao investidor de ser compatível ambientalmente".
Um dos destaques do documento apontado por Nunes é a implantação de 28 programas ambientais como monitoramentos do solo, água do Lago Guaíba, efluente tratado, emissões atmosféricas, lençol freático, qualidade do ar na bacia da área de influência do empreendimento e ruído, entre outros de cunho social como um programa para treinar trabalhadores de Guaíba e municípios vizinhos.
Movimentos SociaisSobre a oposição do Movimento dos Sem-Terra e Via Campesina, a Aracruz parece ter perdido a paciência. Nunes os classificou como "movimentos descolados da sociedade patrocinados com dinheiro do exterior e que não refletem a maioria". Segundo ele, ações violentas do MST e Via Campesina, causam sim prejuízo à empresa e "são um desconforto porque não prezam pelo diálogo".
Nunes falou ainda sobre a tentativa de firmar
convênios com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). De acordo com ele, é prática comum da Aracruz investir em pesquisa apoiando projetos de universidades mundo afora. "Só para você saber, a Aracruz é responsável pelo método florestal brasileiro com pesquisas".
O convênio em questão tem o Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) como financiador e a Aracruz como co-financiadora. Além do Centro de Biotecnologia da UFRGS, o convenio abrange a Universidade Católica de Brasília e a Universidade Federal de Viçosa, com o objetivo da transferência de recursos financeiros do Finep à Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) para a execução de um projeto intitulado "Uso da biotecnologia para a seleção e avaliação de genes de eucalipto envolvidos na qualidade da madeira e produção de biomassa".
O convênio prevê ainda um Termo de Compromisso para regulamentar as condições de sigilo quanto às informações tecnológicas aportadas pelos participantes geradas pelos mesmos no projeto e estabelecer os seus direitos quanto à titularidade, a comercialização e o uso da propriedade intelectual resultando do projeto. "Temos convênios com muitas universidades estrangeiras e é por isso que queremos trabalhar também com as brasileiras", argumentou Nunes.
A tentativa da Aracruz, no entanto, sofre oposição dentro da própria UFRGS. Estudantes e docentes contrários aos projetos da empresa no Estado, tentam barrar a entrada da Aracruz na Universidade. Em março deste ano eles obtiveram sucesso na primeira tentativa da empresa. Na ocasião, a Aracruz tentou firmar parceria com a Escola de Agronomia da universidade, mas diversas manifestações contrárias, incluindo uma "visita" da Via Campesina ao prédio da Reitoria, frustrou seus planos. "Existe uma minoria que nos tem como inimigos, mas são grupos que possuem uma utopia social", lamentou Nunes. Nessa sexta-feira (28/09), uma reunião do Conselho Universitário (Consun) irá discutir novamente o projeto de convênio com a empresa.
(Por Carlos Matsubara, Ambiente JA, 26/09/2007)