Dos 15 mil moradores das ilhas do Guaíba, 35% foram atingidos pelas cheias. A situação se agravou durante a madrugada de ontem, quando o Guaíba atingiu a marca de 2,30 metros de altura na régua da Defesa Civil na Ilha da Pintada. O nível se estabilizou ao meio-dia em 2,18 metros, muito acima do nível de alerta, que é 1,86 metro. Pela manhã, oito carros-pipas do Departamento Municipal de Água e Esgotos estavam abastecendo o braço Norte da Ilha Grande dos Marinheiros, a mais atingida pela cheia, com água potável. A CEEE interrompeu o fornecimento de energia elétrica no local por medida de segurança.
Oito famílias do Beco 17 do braço Norte da Ilha Grande dos Marinheiros, que foram surpreendidas pela água durante a madrugada, amanheceram abrigadas na casa de Jussara Borges, 39 anos. 'A minha casa tem quatro peças, sem contar o banheiro que inundou. Sou a única do beco que escapou da água por 10 centímetros', contou Jussara, que trabalha no clube de mães do posto da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Kátia Maria da Silva, 33 anos, grávida de oito meses do quarto filho, deixou a casa, na rua Nossa Senhora da Aparecida, de barco. 'Fiquei com medo de entrar em trabalho de parto e não conseguir sair mais, pois faltavam 30 centímetros para água entrar', contou.
Equipes da Defesa Civil, bombeiros, Fasc e Secretaria Estadual do Meio Ambiente resgataram com barcos, caminhões e tratores cerca de 200 pessoas até o final da manhã. Os desabrigados estão alojados na paróquia da Ilha das Flores, em um colégio e uma associação de moradores na Ilha da Pintada e na Escola Estadual Alvarenga Peixoto, na Ilha dos Marinheiros.
A Defesa Civil distribui lonas para os moradores levantarem barracas embaixo da ponte da Ilha do Pavão. O acesso Norte da Ilha da Pintada pela BR 290 estava encoberto pelas águas. Moradores fizeram barreiras com terra para tentar evitar o avanço das águas. Um metro de água invadiu a casa de Eliane Santos Camargo, 30 anos, que colocou o fogão na margem da Estrada do Esso 13, onde mora, para fazer o almoço da família. O cardápio era arroz com galinha. As condições climáticas preocupam o secretário adjunto da Defesa Civil, Paulo Marques. Segundo ele, a volta do vento fez represar o Guaíba, impedindo que o nível das águas baixasse.
(
Correio do Povo, 27/09/2007)