Um inseto que mede entre um e dois milímetros está preocupando as autoridades ambientais de Joinville e Jaraguá do Sul, no nordeste de Santa Catarina: os maruins. As moscas pequenas, assim chamadas na língua tupi-gurarani, estão em desequilíbrio na natureza. Nos últimos anos, a espécie culicoides paraensis, que se reproduz em ambientes quentes, aumentou sua incidência e agora chega a incomodar a população da região com 80 picadas por hora, ou seja: 16 vezes mais do que a Organização Mundial de Saúde considera suportável. Com dias mais calorentos no Sul, já tem pesquisadores achando que as mudanças climáticas estão mostrando as caras.
A reclamação dos moradores contra o maruim é antiga e motivou uma pesquisa iniciada neste mês que pretende controlar a população em desequilíbrio em Joinville. Segundo o biólogo paranaense Luiz Américo de Souza, que lidera os estudos na Fundação Municipal de Desenvolvimento Rural 25 de Julho, o inseto tem uma picada ardida e transmite enfermidades. Uma das doenças recorrentes é a língua azul, que acomete animais como ovinos, caprinos e bovinos. Além disso, o maruim pode causar oropouche, uma doença que provoca sintomas semelhantes aos da meningite. Mas os problemas mais comuns são as dermatites, infecções localizadas causadas pela intensa coceira das picadas.
A pesquisa da Fundação 25 de Julho está mais adiantada no município de Jaraguá do Sul, onde o biólogo Ulises Sebastian Sternheim descobriu a associação do bichinho, endêmico da Mata Atlântica, com o cultivo de bananas. “Sabemos que, no ambiente do bananal, ele usa o cepo da bananeira em apodrecimento para se reproduzir. As próximas etapas da pesquisa são os testes de alternativas de controle”, conta o biólogo.
Maruins têm um ciclo de vida de aproximadamente 50 dias e podem ser encontrados também nos manguezais. Eles se alimentam de matéria orgânica em decomposição e gostam de ambientes quentes e úmidos. Segundo Souza, em Joinville os maruins encontram condições ideais para se reproduzirem: talos de bananas cortados.
Da banana para casa
“Tanto na área rural como na urbana, produtores de bananas não têm o hábito de cortar o talo rente ao chão. A conseqüência é de que aquele talo se tornará um ambiente perfeito para a proliferação do mosquito”, explica Souza. O problema sempre existiu, o agricultor sempre conviveu com essa população em “desequilíbrio”, mas, para Souza, o problema só se tornou objeto de atenção quando os insetos começaram a atacar a população urbana.
As escolas rurais foram as primeiras a reclamar. Notícias de aulas frequentemente interrompidas são comuns na região. “Os maruins não perdoam”, brinca Souza, que relata também vários casos de recantos de lazer na área rural cujo número de freqüentadores está diminuindo consideravelmente. Uma das prováveis causas desse desequilíbrio é a ausência de geadas, ou seja, com mais calor, mais maruins vão se proliferar. “Acredito que o frio é um dos predadores naturais do inseto”, afirma Souza.
Para estudar o inseto, os pesquisadores coletam os maruins em armadilhas, como o que eles chamam de caixas de eclosão. Elas já foram espalhadas em cinco pontos de Joinville. A cada dois dias a equipe do projeto recolhe os animais que ficam em recipiente com álcool e posteriormente os examinam em laboratório. Há mais de um ano, Souza vem armazenando as coletas e assim que os recursos forem liberados serão encaminhados para análise à Fundação Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro.
Por falta de pesquisa na área, os repelentes naturais ou industrializados estão se mostrando ineficientes. Souza explica que é comum encontrar em Joinville residências com telas nas portas e janelas, bem com nas escolas. Para ele, uma alternativa também é alertar a população sobre o descontrole: “As pessoas têm que começar a perceber que as conseqüências dos problemas climáticos do planeta nos afetam diretamente”, alerta.
(Por Eunice Venturi,
OEco, 25/09/2007)