País dá resposta oficial contra avaliação de que produção do biocombustível pode aumentar fome mundial O Brasil ataca o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Direitos à Alimentação, Jean Ziegler, e garante que a cultura da cana-de-açúcar distribuiu renda nos últimos 30 anos. O especialista da ONU acaba de concluir um relatório em que aponta para os riscos de o etanol aumentar a fome no mundo e pede uma moratória de cinco anos na expansão do biocombustível no mundo.
Ontem, o Itamaraty decidiu responder oficialmente a essa avaliação em um debate no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
O governo brasileiro pediu a palavra e tentou explicar que, ao contrário do que diz o relatório da ONU, o etanol feito a partir da cana-de-açúcar pode trazer desenvolvimento. No documento das Nações Unidas publicado pelo Estado com exclusividade na segunda-feira, o suíço Ziegler estima que as populações mais pobres podem sofrer com o avanço do etanol, já que ele aumentaria o preço dos alimentos.
Ziegler foi tradicionalmente um aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas sua recente atitude na ONU irritou o governo brasileiro. O suíço chegou a receber nos últimos dias mensagens de agradecimento por parte de líderes do Movimento dos Sem-Terra (MST). O governo cubano também não escondia sua satisfação com o conteúdo do polêmico relatório da ONU.
“O Brasil tem usado o biocombustível por mais de 30 anos. Os resultados concretos para a sociedade têm sido o aumento da produção de cana, mais empregos e benefícios sociais positivos, com melhor distribuição de renda”, afirmou o embaixador na ONU, Sérgio Florêncio. “Portanto, por três décadas, o Brasil conseguiu aumentar a produção de alimentos e de cana para o biocombustível. Isso gerou um impacto positivo na oferta de alimentos, como demonstram os dados da produção agrícola e de exportações.”
O governos brasileiro afirmou que, contrariamente à avaliação de Ziegler, a produção de cana pode ter um papel importante como instrumento para a promoção do progresso na agricultura de países em desenvolvimento.
Não satisfeito, Ziegler contra-atacou. “Não posso concordar com a política energética no Brasil”, afirmou. Mostrando livros do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de Gilberto Freyre em plenário da ONU, o relator insistiu em sua tese. Ele qualificou de “catastróficos” os efeitos da utilização de terras no Brasil para o plantio da cana nos próximos anos.
APOIOApesar do ataque à posição do relator da ONU, o Itamaraty decidiu apoiar a permanência de Ziegler no posto.
O governo brasileiro ainda retrucou, argumentando que entre 2003 e 2007 foram destinados US$ 21 bilhões ao programa Fome Zero. “Como resultado, o Brasil experimentou em 2006 uma queda de 10,6% da pobreza”, afirmou o embaixador brasileiro na ONU.
(Por Jamil Chade,
O Estado de S.Paulo, 27/09/2007)