Existem, grosso modo, na economia e na agricultura mundial, duas correntes antagônicas que advogam concepções distintas de produção e comercialização agrícola:
A primeira consiste na corrente do agronegócio, preconizada pelas grandes empresas mundiais do ramo e pelas agências financeiras internacionais, tais como FMI e Banco Mundial. Conta com a preferência da maioria dos analistas da "imprensa especializada", vinculados geralmente à mesma "grande mídia", predileção que se mostrará perfeitamente compreensível para o leitor no decorrer da presente exposição, ao se analisar a teia de interesses envolvidos entre os grandes atores que participam do sistema.
A segunda corrente constitui-se na agricultura familiar, de base social bem mais ampla, por envolver um número maior de famílias na atividade, e exatamente por este motivo, recomendada pela grande maioria das organizações representativas das sociedades. Pelo fato de privilegiar a geração de empregos, os quais propiciam a sobrevivência digna das famílias e sua fixação no campo, em detrimento de lucros para grandes grupos empresariais ou superávits em balanças comerciais nacionais, não contam com o apoio das camadas mais elitistas das sociedades, leia-se "grande imprensa" (a imprensa comercial, mercenária) e seus "patrões", as grandes empresas.
A corrente do agronegócio quer impor ao nosso país de qualquer maneira as sementes transgênicas, que são sementes adquiridas das grandes empresas transnacionais do setor agrícola, das quais a Monsanto é a mais conhecida. Saiba agora o que representam essas "sementes Frankenstein":
A segunda geração dessas sementes é estéril, ou seja, as sementes nascidas do plantio feito com elas não têm a capacidade de gerar novas plantas. Assim, o agricultor terá que comprar da empresa detentora da patente (Monsanto, por exemplo) novo suprimento de sementes transgênicas, se quiser permanecer na atividade. Conseqüência: o aumento do preço final de alimentos no mercado; elevação da dependência dos pequenos agricultores e sua exclusão do processo produtivo nacional, e aumento da dependência do próprio Brasil com relação às grandes empresas transnacionais do setor agrícola.
As sementes transgênicas contaminarão as culturas convencionais, a saber, farão a transferência horizontal de genes, ou seja, entre espécies que não se relacionam na natureza;
Propiciam a geração de super-pragas - ervas daninhas e insetos resistentes a herbicidas e inseticidas;
Geram também o aumento do uso de defensivos e a redução da produtividade das colheitas, assim como o surgimento de novas substâncias indesejáveis e não previstas.
Tudo isso, fora o aspecto de agressão à saúde das pessoas. Os maiores cientistas do mundo "ainda não conseguiram concluir", em suas pesquisas, sobre os efeitos danosos dessas sementes sobre nossa saúde. Como sabemos muito bem quem paga seus salários, não temos duvidas sobre a perniciosidade das mesmas (da mesma forma que sabemos muito bem dos efeitos da radiação emitidas pelo telefones celulares sobre o corpo humano, potencializando a aparecimento de tumores malignos, leia-se Câncer).
A agricultura, pela essencialidade que representa no que concerne à alimentação mundial, não pode ser tratada apenas como mais um setor econômico. Torna-se cada vez mais necessária a reflexão sobre a prevalência do direito das pessoas de se alimentarem elas próprias, em sobreposição ao direito dos grandes grupos empresariais de escancararem as fronteiras internacionais e comercializarem livremente, assim como forçarem a adoção de uma tecnologia privada no intuito de gerar dependência por parte da maioria dos agricultores do planeta, tudo isso sem nenhum escrúpulo com relação à fome que assola quinze por cento da população da Terra.
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Seja patriota. Patriota não é o jogador de futebol que ganha copa do mundo (ou aquele que, mesmo que a perca, saia para boates pra comemorar a vitória da seleção adversária com os jogadores da seleção oponente). Patriota é aquele que tem a coragem de denunciar o que escraviza a maior parte de nossa população.
(Por Remo Brito Bastos, Adital, 26/09/2007)
Texto extraído do livro Globalização, O Império da Miséria, de Remo Brito Bastos.