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abelhas mortandade de abelhas
2007-09-26

Estudos do pesquisador Karl von Frisch da Universidade de Munique (1920), comprovaram que as abelhas guardam e "transmitem com exatidão às suas colegas o local e a distancia do alimento encontrado. Esta comunicação é realizada através da dança do requebrado e circular que indica a distancia entre a colméia e o alimento, bem como a direção em relação ao sol e à colméia."(Helmuth Wiese) Depois destas descobertas de von Frisch, parece que a ciência não tem mais tido muita preocupação em avançar neste campo.

Em nosso apiário, localizado a aproximadamente 7 quilômetros da cidade de Presidente Figueiredo/AM, fizemos uma observação que oferece um dado novo sobre a comunicação das abelhas, a saber, as rainhas também são informadas sobre a localização das fontes de recursos alimentícios e transmitem este conhecimento às suas filhas.

No dia 2 de fevereiro de 2004, a nossa colméia de Nº 44, localizada sob um abacateiro no sítio de Jaziel Nunes, km 04 da AM/240, a aproximadamente 7 km da cidade de Presidente Figueiredo/AM, no ponto geográfico 042. S 02º03' 36.9'' HO 59º58'42.3'', produziu 8 kg de mel bem escuro, pouco comum na região, enquanto as demais colméias, uma há 3 metros e outras duas a 20 metros da mesma, produziram juntas apenas 1 kg e meio de mel de cor dourada.

No dia 26 de julho do mesmo ano de 2004 fizemos uma divisão artificial dessa colméia e transferi a colméia-mãe para o ponto geográfico 041 S 02º03'49.6'' HO 59º58'25.2'', a 500 metros do local de origem. No dia 12 de fevereiro de 2005, colhi novamente 8,6 kg do mesmo mel escuro, igual ao do ano anterior da mesma colméia, agora localizada 500 metros do local original, enquanto as demais colméias, (4 no local de origem, incluindo a colméia-filha e 9 no local de destino), produziram bem menos e novamente apenas mel dourado.

Trata-se do período das chuvas em que há pouca produção de mel em nossa região, a menos que ocorra uma estiagem inesperada. O que não foi o caso. No período auge da produção de mel em nossa região, entre julho e novembro, não nos foi possível anotar as diferenças dos tipos de mel, uma vez que a produção de mel em nossa região é bastante grande neste período. Aqui a diversidade das floradas silvestres por hectare também é uma das maiores do mundo.

Mas observamos outros casos semelhantes, bastante expressivos principalmente com própolis e que confirmam a nossa observação acima. Por isso mesmo, sentimos muita segurança em afirmar a importante constatação de que a rainha também é informada pelas operárias sobre o local do alimento, o memoriza e o transmite às suas filhas. Desta forma, não carece que as abelhas operárias de um mesmo local procurem, sempre de novo, todas as fontes, por que a rainha como depositária dessa informação a pode comunicar ou transferir de um ano para outro às suas filhas. No caso citado já se haviam sucedido umas 6 gerações de operárias entre uma e outra florada da espécie em questão. Somente uma grande casualidade levaria as abelhas da mesma mãe para esta tão limitada e diferente fonte do mel escuro.

Pode-se concluir daí que a rainha é importante não só como mãe da colméia, mas também como principal depositária das informações da localização dos recursos que garantem o alimento e a saúde da colméia. Com esta constatação abrem-se novas perspectivas para a apicultura.

1. Se o conhecimento das fontes dos recursos necessários para o alimento e para a saúde das abelhas não está restrito ao período da existência das abelhas operárias, mas se estende à vida da rainha, fica questionado o assassinato precoce das rainhas, sugerido de acordo com alguns, após 18 meses, (Helmuth Wiese) cf. outros após 12 meses (Mauro Roberto Martinho da Universidade de Viçosa/MG).

2. A constatação questiona também a alimentação artificial das abelhas principalmente no inicio das floradas, porque ela pode ser prejudicial à saúde dos enxames. Ficando sujeitas ao paternalismo do apicultor as abelhas não mais obedecem à orientação da rainha. Com isto o enxame pode perder importantes informações sobre suas fontes de recursos, tanto do alimento, como da saúde. No inicio das floradas é o momento em que acontece, além da alimentação natural, a "medicina preventiva" dos enxames, isto é, quando estes se fortalecem com a variedade e com os alimentos orgânicos abundantes na natureza.

No inicio das floradas, por exemplo, o "pão-das-abelhas", o "saburá", conforme se expressa o povo da Amazônia, aparece de forma muito generosa e é o alimento insubstituível para a saúde e o fortalecimento das abelhas neste período. Substituindo-o por alimentação artificial, pobre se comparada a alimentação que a natureza oferece, enfraquecemos a saúde das abelhas. Nós nunca nos valemos da alimentação artificial. E nunca tivemos, até o momento, problema sério de doença entre nossas abelhas.

3. A depredação das florestas e da vegetação nativa em geral é um desastre para as abelhas, pois é a vegetação nativa que garante aos enxames as fontes variadas dos produtos alimentícios e medicinais para a sua sobrevivência.

Como conseqüência, deveriam os apicultores e principalmente as associações de apicultores como a Confederação Brasileira de Apicultura e o Apis Clube do Brasil, abandonar a sua modéstia e exigir presença na discussão das políticas públicas ambientais e não deixar que os governos determinem os critérios de sustentabilidade atrás dos interesses necrófilos de madeireiros e de latifundiários do agro-negócio.

Concluindo, queremos dizer que se as rainhas das abelhas guardam conhecimentos para além das estações, fica o alarme de que a morte precoce das rainhas, o paternalismo dos apicultores e a depredação das florestas e dos ambientes naturais, são os principais vilões dos incontroláveis problemas que assolam hoje a vida das abelhas em quase todo o mundo.

(Por Egydio Schwade, com a colaboração de Doroti Schwade/Adital, 25/09/2007)


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