Uma das mais respeitadas ambientalistas do mundo, Judith Cortesão, 92 anos, morreu ontem em Genebra, na Suíça. Portadora de diabetes, há cinco anos ela deixou a Praia do Cassino, onde morava, e foi com os filhos para a Europa. Na época, Judith apresentava um quadro agudo de desnutrição e desidratação, causado pela doença.
A portuguesa que adotou o Rio Grande do Sul como lar na década de 1990 era reconhecida por seu trabalho. Foi assessora da Marinha do Brasil, consultora da Unesco e criadora de ONGs como a SOS Mata Atlântica e o Instituto Acqua. Tinha seis diplomas universitários - Medicina, Letras, Antropologia, Biologia, Biblioteconomia e Climatologia - e falava 14 idiomas, incluindo chinês e árabe.
- Ela era uma pessoa comprometida com o ambiente, um patrimônio da humanidade. Ela permanece viva em todos os que conviveram e aprenderam com ela - disse Lauro Barcellos, diretor do Complexo de Museus da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), que trabalhou com Judith.
A ecologista esteve a bordo do navio Barão de Teffé nas duas primeiras expedições à Antártica. Ela desenvolveu mais de 140 pesquisas e recebeu uma condecoração da Nasa e a Ordem do Mérito Cultural, entregue pelo presidente Lula em 2003. Também deu aulas em mais de 15 universidades no mundo e escreveu 16 livros.
Era viúva do literato português Agostinho da Silva e tinha oito filhos, sendo dois adotivos. Nascida na cidade do Porto, era filha do historiador Jaime Zuzarte Cortesão. Em 1926, seu pai ajudou a comandar a resistência à ditadura de Antônio Salazar no país e acabou exilado. Até a década de 1950, a família morou em vários países, incluindo o Brasil. Em 1957, voltaram para Portugal.
No início da década de 1990, Judith foi morar em Rio Grande. Na Furg, foi professora do único curso no país de pós-graduação em Educação Ambiental Marinha. Ao deixar a cidade, doou seu acervo de cerca de 5 mil livros à instituição, que criou a Sala Verde Judith Cortesão.
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Zero Hora, 26/09/2007)