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2007-09-26

Um dos maiores paradoxos atuais da humanidade é zelarmos tanto pela saúde e bem-estar de nossos filhos e pouco nos importarmos com sua qualidade de vida daqui a 30 ou 50 anos. “A Terra não nos pertence. Ela foi emprestada de nossos filhos”, advertia um cacique indígena americano, há mais de um século. Ademais, torna-se insensato e irônico: nós, humanos, que nos proclamamos inteligentes, somos os únicos – os únicos – a promover o desequilíbrio natural.

Existe uma relação direta entre as agressões ao ambiente e os cataclismos provocados pela natureza injuriada. Conforme estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU), o aquecimento global tem provocado, a cada ano, 150 mil mortes e prejuízos de US$ 70 bilhões. Em relação a 2005, a ONU também catalogou 360 desastres ambientais, dos quais 259 foram creditados à elevação da temperatura na Terra. O agravamento foi de 20% sobre o ano anterior. A “mãe natureza” é, a um só tempo, primitiva e nobre ao agir. É agradecida com quem a trata bem, além de ser espontaneamente dadivosa, bela e vivificante. Porém, pedagógica, sabe ser vingativa com os 6,5 bilhões de terráqueos: “Se alterarem o equilíbrio natural, eu os arruíno”, diria ela.

“A sobrevivência de toda a humanidade está em perigo. É o momento de sermos lúcidos. De reconhecer que chegamos ao limite do irreversível, do irreparável”, adverte o Comunicado de Paris, assinado por representantes de 40 países, reunidos em fevereiro de 2007. Não há mais o benefício da dúvida. O ser humano é o principal indutor do efeito estufa, de furacões, tufões, secas, inundações, incêndios. De fato, a Terra lança gritos agônicos por meio dos quais clama por uma atitude não apenas compassiva, mas também proativa. Não basta que haja uma consciência ambiental. Não basta condoer-se com a morte dos ursos polares.

O planeta será salvo não apenas pelos governos ou organizações não-governamentais nem pela nossa compaixão, mas pelas ações concretas de cada ser humano. É preciso agir. Mesmo fazendo pouco, como o fabulativo beija-flor: Era verão, e o fogo crepitava feroz na floresta. Sobressaltados, os animais se dividiram. Alguns fugiram para o rio que permeava a floresta; outros se puseram a debelar o incêndio. Um beija-flor, nas suas idas e vindas, apanhava uma minúscula porção de água e a arremessava sobre as chamas. O obeso elefante, mergulhado no rio para proteger-se do fogo, perguntou ao beija-flor:
– Meu pequeno pássaro, que fazes? Não vês que de nada serve a tua ajuda?
– Sim, respondeu o beija-flor, mas o importante para mim é que estou fazendo a minha parte!
(Por Jacir J. Venturi, A Notícia, 26/09/2007)


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