Em plena negociação para a compra dos ativos da Esso, o governo argentino decretou, na noite da última segunda-feira (24/09), o fechamento de uma fábrica da Petrobras por supostas irregularidades ambientais. A Secretaria de Meio Ambiente acusa a estatal brasileira de cometer irregularidades contra o meio ambiente em sua usina de armazenamento em Dock Sud, na bacia Matanza Riachuelo. A situação é similar à ocorrida com a Shell há pouco mais de duas semanas, em uma fábrica na mesma região.
De acordo com fontes da empresa, "a medida foi preventiva e parcial" devido "à constatação de derramamento de hidrocarbonetos e perdas nos tanques de depósito". Nessa usina, a Petrobras Energia, subsidiária da Petrobras na Argentina, possui 22 depósitos de óleo diesel, gasolina e petróleo. A fonte explicou que "há tempos que o governo vem inspecionando as plantas da empresa". A decisão do governo argentino foi interpretada pelo mercado como um "recado" do presidente Néstor Kirchner para que a brasileira não compre os ativos da Esso e deixe o caminho livre para a PDVSA (Petróleos de Venezuela) e a Enarsa (estatal argentina).
Fontes do mercado e analistas ouvidos pela Agência Estado na manhã desta terça-feira, 25, explicaram que a operação de venda da Esso "está meio tumultuada". Nas últimas 24 horas, cresceu a versão de que além dos ativos da Argentina, a Exxon Mobil venderia também seus ativos do Brasil, Uruguai e Paraguai, e que a Petrobras seria a principal interessada em comprar o pacote. Mas a PDVSA não desistiu de entrar no mercado argentino e concedeu um mandato de compra ao Morgan Stanley, pelo qual propõe trocar uma de suas 15 refinarias nos Estados Unidos pela filial argentina da Esso.
Estatal argentina - Kirchner tampouco desistiu de seu sonho dourado de colocar um pé nesse mercado através da estatal que criou em 2004, a Enarsa, mas que em realidade nunca saiu do papel. Enarsa entraria no negócio como sócia de PDVSA, facilitando os trâmites burocráticos. Uma fonte revelou que Kirchner aproveitou sua viagem à Nova York, onde participa da Assembléia da ONU, para manter uma reunião com executivos da Exxon Mobil, na segunda, no final da tarde, para liberar as travas das negociações. "Não foi uma coincidência a clausura da fábrica da Petrobras à noite, logo depois dessa reunião em Nova York", disse a fonte.
Os ativos da Esso na Argentina são de sumo interesse para o governo argentino: uma refinaria, 90 postos de serviços próprios e cerca de 500 que comercializam seus produtos. Mas a Enarsa não tem dinheiro para fazer o negócio e precisa da PDVSA. A Exxon Mobil, por outro lado, prefere não vender à petrolífera de Chávez, já que foi praticamente expulsa da Venezuela, há alguns meses. Além disso, desde o escândalo da maleta com US$ 800 mil, encontrada no avião fretado pela Enarsa, com funcionários da PDVSA tentando entrar na Argentina sem declarar, "fazer negócios com a venezuelana não é politicamente correto", confessou uma fonte. A Exxon Mobil prefere vender seus ativos à Petrobras, disse a fonte.
Segundo as fontes, a solução para a intricada negociação seria que a Petrobras abra mão dos ativos na Argentina, deixando-os para a PDVSA e Enarsa, e compre os do Brasil, Uruguai e Paraguai. O fechamento da usina na seguna foi só um aviso da perseguição que a brasileira poderia sofrer por parte do governo. Por exemplo: a operação de compra e venda precisa ser aprovada pela Comissão Nacional de Defesa da Concorrência (o Cade argentino).
Boicote
Esse organismo foi o mesmo que vetou a venda da Transener (Transportadora de Energia) por parte da Petrobras para o fundo norte-americano Ethon porque Kirchner preferia que esse ativo fosse vendido à uma empresa amiga: Elecrtoingeniería em parceria com a Enarsa. Vale recordar que a primeira proposta de Chávez para comprar ativos petrolíferos na Argentina foi em setembro de 2004 para a Shell. Na ocasião, Alí Rodriguez, então presidente da PDVSA, de passagem por Buenos Aires, ofereceu US$ 1 bi pela operação que incluiria a Enarsa. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez chegou a anunciar o negócio, mas a Shell se negou a vender seus ativos.
Poucos meses depois, Kirchner convocou um boicote contra a petrolífera porque esta aumentou os preços da gasolina sem autorização. Desde então, o presidente argentino começou uma verdadeira cruzada oficial contra a petrolífera anglo-holandesa, a qual terminou há pouco mais de duas semanas, quando a mesma secretaria de Meio Ambiente que fechou a fábrica da Petrobras cerrou as portas de fábrica da Shell.
(Estadão Online, 26/09/2007)