Representantes de oito áreas em processo de demarcação levaram uma carta de reivindicação ao representante do Ministério da Casa Civil, Johaness Eck, hoje (21/09) no II Encontro Nacional dos Povos das Florestas. A organização das comunidades foi consolidada no Encontro, e a carta elaborada na última quinta-feira. As áreas prestes a serem demarcadas são as de Quilombo da Concórdia (em Concórdia, no Pará); Quilombo de Jacarequar (Acará/PA); Resex Médio Purus e Resex do Rio Ituxi (Lábrea/AM); Resex do Médio Xingu (Altamira/PA); Resex Mata Grande e Resex do Extremo Norte de Tocantins (Senador La Roque e Davinópolis/MA); Resex Chapada Limpa (Chapadinho/MA).
Segundo Johaness Eck, depois de receber a carta de reivindicações, o próximo passo “é tentar agilizar o processo de avaliação técnica da criação dessas reservas extrativistas para que se transformem em decreto”. Ele detalha que duas delas, a de Chapada Limpa e a Caiu Goiânia, em Pernambuco, serão aprovadas já na semana que vem. Já as outras, “têm situações diferenciadas, mas há uma expectativa de que a maioria delas sejam criadas em outubro", assegura.
Belo Monte
Segundo alguns moradores da região do rio Xingu, as reservas da região ainda não teriam sido aprovadas devido aos estudos da hidrelétrica de Belo Monte. A região seria alagada caso fosse construída outra barragem. A previsão, por enquanto, é de construção de um único barramento, e o governo nega intenção de interromper outro curso d’água na região.
Para o represente da Casa Civil, não é esse o fator que impede a criação das reservas, mas “são situações em que nós precisamos dar uma solução integrada de governo, não podemos criar áreas se vai ter outra destinação, ou mesmo se tiver impedimentos hidrelétricos, você inundar essas terras”, salienta. Ele reitera que “cada situação tem um componente. Só estou dizendo que precisamos de um pouco mais de tempo para dar segurança para a reserva extrativista”.
Conflitos
Os moradores das regiões das reservas relatam situações de intenso conflito pela demarcação das terras. É o caso de Herculano Costa Silva, da Resex Médio Purus. Ele conta que a área sofre com ameaças constantes de fazendeiros e grileiros: “lá são 700 pessoas, na terra do meio e médio Xingu, com criança e tudo. Se nós perdermos aquela área do meio, nós vamos para onde?”, questiona. Ele mesmo responde: “se formos para a cidade, vamos passar fome, as crianças vão sofrer. Nosso lugar é na floresta”.
É a mesma situação de Francisco Monteiro Duarte, da reserva vizinha à de Herculano, a Resex do Rio Ituxi. Morador da região há 26 anos, ele diz que nunca viu uma situação parecida: “nós nunca imaginávamos que ia acontecer o que está acontecendo hoje. Lá hoje está funcionando cerca de 40 serrarias clandestinas, cortando madeira de dia e de noite, sem parar”. Seu Francisco conta que o rio, antes “um rio bonito, bom de navegar”, hoje apresenta vários sinais de seca: “nós vivemos lá na prática, e não tem controle nenhum. Lá nós somos ameaçados por grileiro, fazendeiro, todo mundo”.
Reunião
Depois do encontro com o representante da Casa Civil, Roseany Santos, conterrânea de S. Francisco diz que volta para sua terra com “um pouco mais de esperança”, mas sem muitas respostas. Ela aprovou a iniciativa do governo em dialogar com o povo, mas espera que “nossa voz não fique só no vento, porque só quem sabe o que está acontecendo lá somos nós, que estamos sofrendo com isso”.
Ao se despedir do encontro, Roseany ainda enfrentará uma viagem de avião, e mais seis dias navegando em barco até chegar à sua terra, em situação de conflito. Lá, depois dos vários quilômetros rodados, não é só a família que estará aguardando Roseany, mas também “milhares de pessoas, milhares de comunidades que eu tenho lá e me esperam para levar uma luz, uma resposta para o povo”. E essa resposta continuará sendo apenas um aviso: “tenham esperança”.
(Por Eduardo Paschoal, Amazonia.org, 21/09/2007)