O resultado já era esperado. Logo pela manhã, horas antes do resultado da votação, a entidade de propaganda pró-transgênicos CIB - Conselho de Informações sobre Biotecnologia, financiada pelas múltis de biotecnologia (entre elas a Syngenta) já tinha pronta uma nota à imprensa destacando que “CTNBio aprova mais uma variedade de milho transgênico, a terceira liberada no Brasil”
Para ir direto ao assunto e não decepcionar esses setores, o presidente da CTNBio, Walter Colli, propôs e colocou em votação a inversão da pauta, para dar prioridade ao pedido da empresa. A inversão foi votada e aceita. Depois do debate em que foi mais uma vez evidenciada a forma não científica como funciona a Comissão, 15 de 27 votaram a favor da liberação do milho. No final da sessão, um dos assessores da CTNBio ganhou caloroso abraço de uma representante da Syngenta que acompanhou a reunião.
Um grupo de mulheres, mães e gestantes fez um protesto no início da reunião chamando atenção para os riscos dos transgênicos à saúde dos bebês. Vestidas com camisetas “Meu filho não é cobaia”, elas distribuíram a todos os membros da CTNBio e demais participantes da reunião um folheto destacando problemas de saúde resultantes do consumo de milho transgênico, como reações alérgicas. Também falaram sobre a ameaça que a liberação do milho transgênico representa para a segurança e soberania alimentar e como ela pode destruir a agricultura familiar e camponesa.
Uma das pesquisadoras da CTNBio, indicada pela SBPC, expressou em alto em bom tom sua visão sobre o papel dos agricultores familiares na sociedade brasileira. Para Eliane Abdelhay, do Instituto Nacional do Câncer, as políticas e os programas dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente que visam o fortalecimento da agricultura familiar e o uso sustentável da biodiversidade agrícola são uma verdadeira “ode ao subdesenvolvimento”. Vários integrantes da CTNBio reagiram a tão torpe declaração, e os que calaram, consentiram.
A Justiça Federal de Curitiba ainda está analisando se a CTNBio cumpriu ou não a liminar que exige a definição de regras de monitoramento pós-liberação comercial e de coexistência previamente à liberação comercial de variedades de milho transgênico. Caso a Justiça interprete que a exigência não foi cumprida, a decisão desta quinta-feira poderá ficar sem efeito.
Isto é o que esperam as organizações que propuseram na Justiça a ação que resultou nesta liminar, já que de fato os termos de monitoramento pós-liberação comercial não foram cumpridos, assim como não foram definidas as normas de coexistência entre milho transgênico, agroecológico e orgânico.
(Por um Brasil Livre de Transgênicos /
Biodiversidad LA, 24/09/2007)