Recentemente, após a divulgação dos resultados referentes ao aquecimento global pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), a luz de alerta se acendeu no mundo.
Divulgaram-se previsões catastróficas sobre o futuro do Planeta Terra e da humanidade, com acontecimentos naturais de todas as espécies. Secas, inundações, furacões, tornados, maremotos, terremotos e até tsunamis são, apenas, alguns destes eventos previstos. No entanto, mesmo diante de um quadro tão trágico como este apresentado, com base nos estudos de centenas de cientistas de 40 países, poucas ações concretas foram feitas, até o presente momento, para se reduzir os efeitos do aquecimento global.
O Brasil tem sido lembrado a todo momento. Afinal, somos o quarto país do mundo em emissão de gases de efeito estufa, muitos destes provenientes das queimadas. Outro grave problema é o desmatamento de áreas florestais, ressaltando, aqui, o que ocorre na Amazônia (o que eleva a temperatura destas regiões e torna a vegetação propícia às queimadas). Por outro lado, estamos conquistando prestígio com a produção de biocombustíveis, uma vez que, até o momento, o Brasil tende a ser o maior produtor deste tipo de combustível, que, além de rentável economicamente, contribui para a diminuição do aquecimento.
O senador Pedro Simon escreveu um artigo interessante na Folha de São Paulo, edição de 02 de abril de 2007, intitulado "Crônica de uma catástrofe vivenciada" lembrando bem que, neste triste quadro, "somos nós os protagonistas, ora mocinhos, ora vilões". Cita, ainda, que o aquecimento global poderá elevar os níveis dos oceanos e dos mares, e inundar parte das cidades litorâneas. Toca num ponto crucial, dizendo que a "agricultura mundial terá uma nova geografia [...] inundações e secas prolongadas expulsarão populações das cidades e do campo [...] A miséria, a fome e a violência ocuparão, ainda mais, corações e mentes, e a guerra civil não declarada, da bala perdida ou mirada, poderá ter o ‘alistamento’ de novos batalhões, cada vez mais ao descontrole do Estado. Mais uma vez, regiões e populações mais pobres serão as maiores vítimas".
Diante disto, algumas perguntas pairam no ar, como por exemplo: Como conciliar as necessidades econômicas com os cuidados ambientais que o Planeta Terra carece neste momento delicado? Como a população, em especial a brasileira, reage diante deste cenário catastrófico?
Estes questionamentos não são fáceis e simples de serem respondidos, mas podemos refletir sobre o artigo "Clima de oportunidades", de Tiago Romero (publicado na Agência FAPESP, no dia 11 de junho de 2007). Ele traz dados de uma pesquisa feita pela Universidade de Oxford (Inglaterra) constatando que "o nível de consciência da população brasileira sobre as questões ambientais é alto e ocupa a sétima posição de um ranking". Este estudo mostrou que, no Brasil, 24% da população diz se preocupar com as mudanças climáticas (aparecendo à frente do Reino Unido com 15% e dos Estados Unidos com 13%). "Os países que mais se preocupam com o tema, de acordo com o levantamento, são Suíça (36%), França (32%), Austrália (31%) e Canadá (31%)".
Esse dado em relação ao Brasil, em parte, é algo louvável, mas cabem ressalvas. Hoje, somos (ainda) o celeiro da biodiversidade e dos recursos naturais, temos grande parte da água potável, temos a maior floresta tropical do mundo, mas, ainda há muito que ser feito, especialmente em relação à defesa real do meio ambiente. Existem pessoas que levantam esta bandeira, mas em busca de sua própria promoção pessoal, o que chamamos de oportunistas.
Algumas empresas e instituições buscam, cada vez mais, o aumento dos lucros, não se atentando a algo tão importante chamado sustentabilidade. Todos enaltecem "os fins", o progresso, o crescimento, mas se esquecem dos "meios". Se as empresas adotassem, realmente, o conceito da sustentabilidade, as mesmas seriam ecologicamente corretas; economicamente viáveis; socialmente justas e culturalmente aceitas. Desta forma, maximizariam seus lucros, deixando de prejudicar o meio ambiente.
Um dos fatores que não permitem esses avanços é o pensamento errôneo de que a natureza é infinita. Ainda domina na mente de boa parte da população a idéia de que a natureza se renova em tempo de suprir as extrações e as agressões feitas pelo homem. Muitas pessoas ainda não acreditam, ou não querem acreditar que recursos como o petróleo, a água e o carvão podem, um dia, acabar e termos uma crise mundial.
O senador Pedro Simon, no mesmo artigo, diz que: "[...] deixamos, há muito tempo, de falar a mesma língua, universal, humanística. Construímos uma torre para atingir uma espécie de deus-mercado, suntuoso em bens materiais. Transformamos o semelhante em concorrente, quando não em adversário. A consciência coletiva deu lugar ao individualismo".
Portanto, é necessário repensar o tão almejado crescimento econômico que passa pelo modo de vida, de consumo e de produção. Temos que respeitar a natureza, gerar novas oportunidades sustentáveis, aprender e nos aprimorar com as crises, incluindo as ambientais. Não seria preciso derrubar mais nenhuma árvore na Amazônia, desde que houvesse um investimento no modo de se produzir grãos, bovinos ou qualquer outro tipo de atividade rural. O que é preciso é pensar em maximização da produção, reduzindo as perdas no menor espaço possível ao invés de se aumentar a área plantada e não se utilizar a tecnologia adequada. Os efeitos estão aí. Cabe a nós atuar no presente para modificar o futuro, uma vez que as previsões não são nada animadoras.
(Por Marçal Rogério Rizzo*, Everton Silva e Gustavo Hiert de Andrade**,
Adital, 24/09/2007)
* Economista, professor universitário, mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp e doutorando em Dinâmica e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP de Presidente Prudente - SP).
** Acadêmicos do 4º. ano de Administração da Universidade Federal da Grande Dourados/MS - UFGD.